Na edição de hoje do
Boletim de Conjuntura, publicamos uma entrevista exclusiva
com João Sicsu, professor do Instituto de Economia da
UFRJ , discutindo o cenário atual da economia
brasileira e propondo estratégias e políticas
para a retomada do crescimento
econômico. |
Como o senhor viu o aumento de 50
p.b. da SELIC promovida pelo COPOM nesta semana? Qual o
eventual impacto do aumento dos juros na
inflação neste ano e no
próximo?
JS: Todas as previsões são
de que a inflação encerre o ano em patamar
inferior a 6%. Será um resultado próximo
àqueles dos últimos anos, sem nenhuma
novidade. Houve recentemente uma redução nos
preços dos transportes urbanos e um aumento no
dólar, uma coisa pode compensar a outra. A
desvalorização cambial gera mais
inflação quanto maior o crescimento. Contudo,
há mostras claras de que o crescimento do ano
será inferior a 3%, talvez 2%. E os números
referentes à geração de empregos
formais são decepcionantes. É neste quadro que
o Banco Central elevou a taxa de juros, foi uma
decisão lamentável. Foi uma decisão
contaminada pelo medo decorrente da conjuntura de
dificuldades políticas que vive o
governo. |
A inflação de junho
veio abaixo das expectativas do mercado. Quais os riscos
inflacionários atuais e quais seriam as melhores
formas de combatê-los?
JS: A inflação de 2013 é
semelhante à inflação dos anos
anteriores. Tem havido uma pressão altista de
preços no primeiro semestre e uma tendência de
redução do ritmo no segundo. O governo iniciou
um ciclo de aumento de juros e anunciou também que
fará uma política fiscal de cortes de gastos
em uma economia que cresce a taxas medíocres. Se a
inflação é de demanda, qual é o
crescimento que precisamos ter para manter a
inflação sob controle? Precisaremos ter um
crescimento inferior a 1%? Será preciso gerar
desemprego de forma significativa? Minha resposta: a
inflação não é de demanda,
não podemos sacrificar o mercado de trabalho e
é preciso ter calma e equilíbrio para dirigir
a economia em uma conjuntura de dificuldades
políticas. |
Maio foi um mês fraco no
varejo e na indústria, culminando em um IBC-Br de
-1,4%. O acumulado em três meses, no entanto, ainda
aponta um crescimento maior que 1%. Qual sua expectativa
para o crescimento do segundo trimestre e, caso seja
possível tal previsão, para o ano
2013?
JS: Infelizmente, entramos na era dos pibinhos desde
2011. O crescimento de 2010 foi de 7,5%. O investimento
naquele ano cresceu mais que 21%. Era preciso desacelerar
(fazer um soft landing) por conta dos gargalos de
infraestrutura, mas o governo meteu o pé no freio de
forma exagerada: elevou os juros e fez corte de gastos (fez
um hard landing). A economia despencou para 2,7% no
ano seguinte. Aí chegou a crise internacional. Hoje
ainda temos as dificuldades políticas
domésticas. A crise econômica já chegou
ao mercado formal de trabalho (Caged e Rais) que é o
melhor indicador do crescimento. A taxa de desemprego
não explica o crescimento porque depende de fatores
de oferta e demanda por trabalho. Espero para 2013 mais um
pibinho. A era Lula de crescimento com investimento
aumentando a uma taxa entre 2 a 3 vezes a taxa do PIB ficou
no
passado. |
A recente
desvalorização cambial e a queda na bolsa de
valores revelam algum "mal estar" do mercado com o
Brasil. Quais, em sua visão, são os motivos
desse mal estar e como o governo deveria reagir para
acelerar o ritmo de crescimento sem pressões
inflacionárias?
JS: As pressões inflacionárias
decorrentes do crescimento são residuais. Afinal,
nosso PIB não assusta ninguém, nem a
inflação. Há grandes dificuldades
no quadro internacional: pessimismo e a expectativa de
elevação dos juros nos Estados Unidos que
causam movimentos de capitais para fora. Há
dificuldade política interna de
insatisfação e de tensão
pré-eleitoral antecipada. O quadro é de
grandes dificuldades, em parte causado pelo próprio
governo. Mas não adianta chorar sobre os erros do
passado. A solução é básica,
ainda assim, os resultados não apareceriam já
no próximo ano. Uma solução seria fazer
um New Deal brasileiro para enfrentar problemas
econômicos e sociais. O foco deveria ser atacar os
problemas de infraestrutura dos transportes urbanos, da
saúde, da educação e da
habitação. Nosso New Deal deveria
inovar com uma gestão compartilhada com a sociedade e
aceitar, quando for o caso, o enfrentamento com os
adversários políticos. Já é hora
de entender que a época de "governar para
todos" ficou no passado. Problemas setoriais e sociais
não serão resolvidos sem embates e
enfrentamentos. |
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