domingo, 21 de outubro de 2007

DÁ MÊDO ATÉ DE ASSISTIR


O Surgimento de um clássico: Cinema Fantástico
POR JEAN LIMA

A mocinha indefesa, o facão ilumina na luz da câmera, a música clássica aumenta no suspense escasso, o sangue jorra, o horror torna-se inevitável, mãos cobrem o rosto, sadismo, ambiente fúnebre, o mal algumas vezes vence o bem, o bem na verdade, pode ser o mal, que coisa é essa?A narração mostra um pouco do gênero cinematográfico conhecido como o cinema “Fantástico” ou simplesmente de “Horror”. Usurpado da literatura, o modelo de filme apresentou suas primeiras adaptações em “O Médico e o Monstro” de Robert L. Stevenson e no imortal “Drácula” de Bram Stoker, isso em meados de 1913. Hoje, o gênero é motivo de verdadeiras peregrinações em sebos e cinematecas por aficionados, quase como uma devoção religiosa. Para alguns, o cinema do “Horror” é o lado bizarro das telas, sem profundidade, sem sentido específico, morte, sangue, crueldade, covardia, simplesmente cultura inútil. Mas a história do gênero “Fantástico” nasceu exatamente no ambiente descrito acima. A Alemanha armava-se para sua primeira guerra mundial e, como a maioria dos movimentos artísticos, o “Horror” cresceu na adversidade. A juventude alemã encontrou no cinema a sua forma artística para retratar uma situação “quase” irretratável. Nesse ambiente nasceram produções como “O Estudante de Praga” e “O Golem”. O grande start para o movimento surgiu da arte expressionista alemã, em figuras emblemáticas como Dr. Caligari, Nosferatu e Dr.Mabuse, que deram suas consideráveis contribuições para fomentar este debut do "Fantástico".Por volta dos anos 30, o soturno mercado chega a América, como uma espécie de cinema de “verdade”, com isso, teve maior alcance e notoriedade. O ambiente para o desenvolvimento das obras não foi diferente da descrita na Alemanha, outra situação degradante estava em andamento. O "crash" da bolsa de valores em 1929, ocorrido nos EUA, criou outro cenário favorável para o crescimento do estilo. A multinacional Universal Pictures resolveu apostar no gênero, “com bala na agulha” e apetite para alavancar essa "nova onda", arriscou em produções como, “Drácula” e “Frankenstein”, ambos dirigido por Tod Browning. Isso consagrou Bela Lugosi e Boris Karlof, o cinema fantástico finalmente atraiu grande visibilidade.Com "solo fértil e a semente plantada", uma enxurrada de "filmes fantásticos" invadiram os cinemas, que arrastou uma verdadeira legião de fãs reproduzido em títulos como: “A Múmia” de Karl Freund (1934), “O Gato Preto” de Edgar Ulmer (1934), “A Noiva de Frankenstein” de James Whale (1935), “A Ilha do Dr. Moreau” de Earle Kenton (1933). Com o "cinema normal" em ascensão e seus atores e atrizes "beatificados", o cinema Fantástico recebe a conotação de arte paralela, jogada à margem. A mesmice e o "fim dos mitos", dos temas, as mesmas histórias, enfim, a falta do ineditismo, que contribuíram para uma queda considerável deste gênero, criou uma crise que se arrastou até meados dos anos 50. Eis que entra em cena uma produtora britânica a "Hammer Films", incorporando novas tendências, enredos e o advento da cor, não esquecendo seus mestres Frankenstein e Drácula. O cinema fantástico dá sua volta por cima e reencontra os bons tempos de lado B, que se estende até o inicio dos anos 70. Infelizmente a Hammer Films acaba e o gênero é esquecido. Até hoje o gênero “sobrevive”, a trancos e barrancos, e tenta seguir, embora sem a mesma genialidade e originalidade dos áureos tempos de outrora.No Brasil, o movimento teve a sua época, mas foi nas mãos do mestre José Mojica Marins, o Zé do Caixão, que o gênero teve seu ápice nos anos 60 e ainda sobrevive graças a produtoras independentes que ainda desenvolvem suas edições inéditas e relançam DVD's e títulos cavernosos, que podem ser adquiridos no mercado alternativo, ou seja, no lado B da coisa. Talvez daí explique-se esta devoção por parte de cinéfilos, curiosos e descolados de plantão. O custo, para a aquisição de uma obra rara, chega à casa das três cifras "antes da virgula". Hoje, a procura e o estudo desses itens tem sido tema de palestras, cursos e até mesmo, “vejam vocês”, teses de mestrado. Não pensem que filmes como “Pânico”, “Sexta-Feira 13” e “A Hora do Pesadelo” não fazem parte do cinema de “Horror”, a única diferença é que tais títulos ficam no plural, ou seja, gêneros “Horrorosos”. Isso sim, dá medo, horror, raiva e sono de assistir”. Por isso eu sempre digo: na arte, prefiram os clássicos.

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