O desentendimento
Jacques Rancière
Tradução de Ângela Leite Lopes
Coleção Trans | 160 p. | 14 x 21 cm | 212 g. | ISBN 978-85-7326-692-4 | R$ 45,00
Para Jacques Rancière, a política não é uma atividade rotineira,
tampouco uma prática corrente nos sistemas consensuais que caracterizam
boa parte das sociedades contemporâneas. A política é rara, e só
acontece verdadeiramente nos momentos em que uma “parte dos que não têm
parte” rompe a lógica supostamente natural da dominação e “faz ouvir
como discurso o que antes só era ouvido como ruído”.
Publicado na França em 1995, O desentendimento é uma das
obras mais importantes deste que é reconhecido como um dos grandes
pensadores da atualidade. Partindo das definições do político em Platão e Aristóteles, reinterpretando as revoltas dos escravos na Antiguidade, distinguindo as noções de polícia e política,
e analisando as implicações do ato de falar que estão na base das
disputas sociais, o livro desemboca numa crítica aguda às
pós-democracias midiáticas, nas quais o “povo” é apresentado sob a forma
reduzida da estatística e da sondagem de opiniões. Contra esse estado
de coisas, seu autor propõe o entendimento da comunidade política como
“comunidade de litígio”.
Obra de atualidade impressionante, ocupando um lugar seminal na trajetória de Rancière, O desentendimento tem agora nova edição no Brasil, inteiramente revista e anotada.
Sobre o autor
Considerado um dos maiores intelectuais franceses da atualidade,
Jacques Rancière nasceu em Argel, em 1940, e é Professor Emérito de
Estética e Política da Universidade de Paris VIII —
Vincennes/Saint-Denis, onde lecionou de 1969 a 2000. Entre seus livros
destacam-se A lição de Althusser (1975), A noite dos proletários (1981), O mestre ignorante (1987), Os nomes da história (1992), O desentendimento (1995), A partilha do sensível (2000), O inconsciente estético (2001) e Aisthesis: cenas do regime estético da arte (2011).
Texto de orelha
Mais uma vez Jacques Rancière, um dos mais originais filósofos
políticos da atualidade, professor na Universidade de Paris, ataca as
evidências imediatas pelas quais é pensado o poder. Partindo de um
reexame da democracia nos clássicos gregos e da rebelião da plebe romana
contra o patriciado, Rancière pensa a política a partir do desentendimento.
Longe de ser o lugar da harmonia, com os homens se entendendo pelo bem
comum, a política é esse conflito, no qual o povo — a plebe, os que não
têm título algum para fundar suas pretensões ao poder — manifesta um
escândalo primeiro, decisivo: o escândalo de querer falar e dizer.
O escândalo da democracia está em nascer de um simples fato: o fato
de que o povo não legitima suas pretensões nem pelo nascimento, como os
nobres, nem pela riqueza, como os burgueses. Mas desde Platão a
“filosofia política” nega essa pura contingência e tenta fundar o que
não pode ser fundado. Ora, somente a atenção a esse caráter precário do
político permitirá, em nossos tempos de um fácil mas duvidoso consenso,
compreender por que e como a política se dá nos movimentos sociais,
tanto ou mais que nas assembleias da democracia representativa
tradicional. Vê-se como Rancière se opõe à opinião dominante nos meios
de comunicação e na fala do poder.
O desentendimento é a chave para entendermos a luta pela palavra e
pela razão, crucial em política. Negar racionalidade à plebe é a grande
estratégia de dominação desde a Antiguidade, bem-sucedida quando os
citas se recusam a usar armas contra seus escravos rebelados, preferindo
chicoteá-los como animais, malsucedida quando o patrício romano Menênio
Agripa tenta explicar aos plebeus em greve que eles não têm acesso à
linguagem.
Estratégia velhíssima mas atual. A discussão política indaga quem tem
direito a proferir um discurso portador de sentido. E por isso uma
política democrática tem de romper com a “filosofia política”
convencional, que se define por querer abafar o escândalo que é a plebe
falar de poder.
Renato Janine Ribeiro
quinta-feira, 26 de abril de 2018
Nova edição de O DESENTENDIMENTO, uma das obras mais importantes de Jacques Rancière
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Editora 34
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