quinta-feira, 26 de abril de 2018

Nova edição de O DESENTENDIMENTO, uma das obras mais importantes de Jacques Rancière

O desentendimento
Jacques Rancière
Tradução de Ângela Leite Lopes

Coleção Trans | 160 p. | 14 x 21 cm | 212 g. | ISBN 978-85-7326-692-4 | R$ 45,00

Para Jacques Rancière, a política não é uma atividade rotineira, tampouco uma prática corrente nos sistemas consensuais que caracterizam boa parte das sociedades contemporâneas. A política é rara, e só acontece verdadeiramente nos momentos em que uma “parte dos que não têm parte” rompe a lógica supostamente natural da dominação e “faz ouvir como discurso o que antes só era ouvido como ruído”.
Publicado na França em 1995, O desentendimento é uma das obras mais importantes deste que é reconhecido como um dos grandes pensadores da atualidade. Partindo das definições do político em Platão e Aristóteles, reinterpretando as revoltas dos escravos na Antiguidade, distinguindo as noções de polícia e política, e analisando as implicações do ato de falar que estão na base das disputas sociais, o livro desemboca numa crítica aguda às pós-democracias midiáticas, nas quais o “povo” é apresentado sob a forma reduzida da estatística e da sondagem de opiniões. Contra esse estado de coisas, seu autor propõe o entendimento da comunidade política como “comunidade de litígio”.
Obra de atualidade impressionante, ocupando um lugar seminal na trajetória de Rancière, O desentendimento tem agora nova edição no Brasil, inteiramente revista e anotada.
Sobre o autor
Considerado um dos maiores intelectuais franceses da atualidade, Jacques Rancière nasceu em Argel, em 1940, e é Professor Emérito de Estética e Política da Universidade de Paris VIII — Vincennes/Saint-Denis, onde lecionou de 1969 a 2000. Entre seus livros destacam-se A lição de Althusser (1975), A noite dos proletários (1981), O mestre ignorante (1987), Os nomes da história (1992), O desentendimento (1995), A partilha do sensível (2000), O inconsciente estético (2001) e Aisthesis: cenas do regime estético da arte (2011).

Texto de orelha
Mais uma vez Jacques Rancière, um dos mais originais filósofos políticos da atualidade, professor na Universidade de Paris, ataca as evidências imediatas pelas quais é pensado o poder. Partindo de um reexame da democracia nos clássicos gregos e da rebelião da plebe romana contra o patriciado, Rancière pensa a política a partir do desentendimento. Longe de ser o lugar da harmonia, com os homens se entendendo pelo bem comum, a política é esse conflito, no qual o povo — a plebe, os que não têm título algum para fundar suas pretensões ao poder — manifesta um escândalo primeiro, decisivo: o escândalo de querer falar e dizer.

O escândalo da democracia está em nascer de um simples fato: o fato de que o povo não legitima suas pretensões nem pelo nascimento, como os nobres, nem pela riqueza, como os burgueses. Mas desde Platão a “filosofia política” nega essa pura contingência e tenta fundar o que não pode ser fundado. Ora, somente a atenção a esse caráter precário do político permitirá, em nossos tempos de um fácil mas duvidoso consenso, compreender por que e como a política se dá nos movimentos sociais, tanto ou mais que nas assembleias da democracia representativa tradicional. Vê-se como Rancière se opõe à opinião dominante nos meios de comunicação e na fala do poder.
O desentendimento é a chave para entendermos a luta pela palavra e pela razão, crucial em política. Negar racionalidade à plebe é a grande estratégia de dominação desde a Antiguidade, bem-sucedida quando os citas se recusam a usar armas contra seus escravos rebelados, preferindo chicoteá-los como animais, malsucedida quando o patrício romano Menênio Agripa tenta explicar aos plebeus em greve que eles não têm acesso à linguagem.
Estratégia velhíssima mas atual. A discussão política indaga quem tem direito a proferir um discurso portador de sentido. E por isso uma política democrática tem de romper com a “filosofia política” convencional, que se define por querer abafar o escândalo que é a plebe falar de poder.
Renato Janine Ribeiro

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