Europeu também pode
(Explicação aos
leitores:
Onde está escrito Espanha, leia
França;Onde está escrito Iraque e Afeganistão, leia Síria, ou Palestina, etc.;
Onde está escrito Bush, leia OTAN.
O resto é igualzinho.)
Tinha passado dois dias em Florianópolis, e vim pelo caminho imaginando como iria contar para vocês, desta vez, sobre uma goiabeira que foi muito importante na minha infância. Então chego, ligo para minha mãe para dizer que cheguei bem – as mães sempre querem saber tal coisa – e do alto dos seus 82 anos, ela me diz:
- Tu já viste o que aconteceu na Espanha? Peguei a notícia no meio, não sei muito bem, mas foi terrível! Deve sair tudo de novo agora nos noticiários da noite.
É claro que me aboletei no sofá para ver todos os noticiários. E como ando sentindo muita dor, porque quebrei um braço faz 40 dias, mas só há 4 que um médico descobriu que o braço estava quebrado, de imediato senti muita pena daquelas pessoas mortas, feridas, estraçalhadas, cheias de dor que resultaram do tríplice atentado madrilenho de hoje. A primeira informação que cada canal de televisão disse foi: “Atentado atribuído ao E.T.A.”, que é uma organização de uma região separatista ao norte da Espanha, o País Basco. Só que tem uma coisa: o E.T.A. até faz uns alguns atentados, mas muito menores, nada a ver com o massacre das estações de trem ocorridos hoje. Ficava bem ao Primeiro Ministro espanhol, no entanto, jogar a culpa no E.T.A. – se é um atentado caseiro, não tem nada a ver com a irresponsabilidade dele, juntando-se a um louco como Bush II para invadir outros países e massacrar muitas centenas de milhares de pessoas, que acho que é o que já foi massacrado recentemente na soma das mortes feitas pelos invasores só no Afeganistão e no Iraque. Rabo entre as pernas, o Ministro Aznar procurava ficar escondido atrás do E.T.A. – mas antes que a noite se adiantasse já havia uma associação ligada a Al Qaeda assumindo a responsabilidade, e dizendo que não tinha nenhuma pena de ver civis europeus tão bem estraçalhados quanto civis asiáticos. Al Qaeda vocês se lembram, é a organização do Osama bin Laden, a que derrubou as torres gêmeas nos Estados Unidos.
Daí imagino que metade de vocês está querendo comer Osama Bin Laden e a Al Qaeda por uma perna, porque gente legitimamente branca, ancorada na velha e boa Europa, aquela que gerou a maioria de nós, sofreu na pele um ATENTADO – meu braço aqui está doendo o suficiente para eu saber que braços e outras coisas quebradas doem muito – imaginem gente estraçalhada como explosivos estraçalham, gente que fica sem uma perna e meia barriga, ou gente que perde meio rosto e meia cabeça, como vi muito bem como ficam pessoas explodidas numas fotos realistas que estavam expostas em Porto Alegre, lá no Terceiro Fórum Social Mundial. Isto sem contar as crianças, pequenas vítimas inocentes da loucura de adultos loucos, com as barrigas abertas como couve-flores vermelhas e outras coisas horripilantes.
E daí uma coisa assim acontece na velha e boa Europa que nos “descobriu” (A América já estava “descoberta” há pelo menos 12.000 anos!), e a maior parte do nosso público se horroriza: como? Na Europa? Lá não pode! Lá é o berço da civilização! – e por aí vai. Esquecem-se, claro, que há diversas civilizações, e que a da Europa é apenas uma delas. Mas os europeus podem sair por aí na cola do Louco Bush, invadindo países que têm petróleo e explodindo gente a granel, sem que a gente ache que está errado. Não está errado uma ova! Gente explodida na Ásia e gente explodida na Europa é a mesmíssima coisa. E veja bem quantos países europeus estão ajudando a explodir gente na Ásia: Inglaterra, Itália, Estônia, Polônia, Dinamarca, Hungria, uma Espanha com um louco Aznar que decerto agora não sabe onde enfiar a cara, e até o nosso antepassado Portugal, coisa que nunca nem quis acreditar direito! Pois é, estão lá os europeus a fazer as barbaridades sem pensar que elas acabarão vindo parar dentro de casa. Já começou. E decerto ainda vai piorar. Europeu também pode explodir. Exatamente como asiático explode. É a mesma coisa.
E o mundo ocidental se horroriza com o que aconteceu na Europa. Mas por que não se horroriza quando acontece nos outros continentes?
Blumenau 12 de março de 2004.
Urda Alice Klueger
Onde está escrito Bush, leia OTAN.
O resto é igualzinho.)
Tinha passado dois dias em Florianópolis, e vim pelo caminho imaginando como iria contar para vocês, desta vez, sobre uma goiabeira que foi muito importante na minha infância. Então chego, ligo para minha mãe para dizer que cheguei bem – as mães sempre querem saber tal coisa – e do alto dos seus 82 anos, ela me diz:
- Tu já viste o que aconteceu na Espanha? Peguei a notícia no meio, não sei muito bem, mas foi terrível! Deve sair tudo de novo agora nos noticiários da noite.
É claro que me aboletei no sofá para ver todos os noticiários. E como ando sentindo muita dor, porque quebrei um braço faz 40 dias, mas só há 4 que um médico descobriu que o braço estava quebrado, de imediato senti muita pena daquelas pessoas mortas, feridas, estraçalhadas, cheias de dor que resultaram do tríplice atentado madrilenho de hoje. A primeira informação que cada canal de televisão disse foi: “Atentado atribuído ao E.T.A.”, que é uma organização de uma região separatista ao norte da Espanha, o País Basco. Só que tem uma coisa: o E.T.A. até faz uns alguns atentados, mas muito menores, nada a ver com o massacre das estações de trem ocorridos hoje. Ficava bem ao Primeiro Ministro espanhol, no entanto, jogar a culpa no E.T.A. – se é um atentado caseiro, não tem nada a ver com a irresponsabilidade dele, juntando-se a um louco como Bush II para invadir outros países e massacrar muitas centenas de milhares de pessoas, que acho que é o que já foi massacrado recentemente na soma das mortes feitas pelos invasores só no Afeganistão e no Iraque. Rabo entre as pernas, o Ministro Aznar procurava ficar escondido atrás do E.T.A. – mas antes que a noite se adiantasse já havia uma associação ligada a Al Qaeda assumindo a responsabilidade, e dizendo que não tinha nenhuma pena de ver civis europeus tão bem estraçalhados quanto civis asiáticos. Al Qaeda vocês se lembram, é a organização do Osama bin Laden, a que derrubou as torres gêmeas nos Estados Unidos.
Daí imagino que metade de vocês está querendo comer Osama Bin Laden e a Al Qaeda por uma perna, porque gente legitimamente branca, ancorada na velha e boa Europa, aquela que gerou a maioria de nós, sofreu na pele um ATENTADO – meu braço aqui está doendo o suficiente para eu saber que braços e outras coisas quebradas doem muito – imaginem gente estraçalhada como explosivos estraçalham, gente que fica sem uma perna e meia barriga, ou gente que perde meio rosto e meia cabeça, como vi muito bem como ficam pessoas explodidas numas fotos realistas que estavam expostas em Porto Alegre, lá no Terceiro Fórum Social Mundial. Isto sem contar as crianças, pequenas vítimas inocentes da loucura de adultos loucos, com as barrigas abertas como couve-flores vermelhas e outras coisas horripilantes.
E daí uma coisa assim acontece na velha e boa Europa que nos “descobriu” (A América já estava “descoberta” há pelo menos 12.000 anos!), e a maior parte do nosso público se horroriza: como? Na Europa? Lá não pode! Lá é o berço da civilização! – e por aí vai. Esquecem-se, claro, que há diversas civilizações, e que a da Europa é apenas uma delas. Mas os europeus podem sair por aí na cola do Louco Bush, invadindo países que têm petróleo e explodindo gente a granel, sem que a gente ache que está errado. Não está errado uma ova! Gente explodida na Ásia e gente explodida na Europa é a mesmíssima coisa. E veja bem quantos países europeus estão ajudando a explodir gente na Ásia: Inglaterra, Itália, Estônia, Polônia, Dinamarca, Hungria, uma Espanha com um louco Aznar que decerto agora não sabe onde enfiar a cara, e até o nosso antepassado Portugal, coisa que nunca nem quis acreditar direito! Pois é, estão lá os europeus a fazer as barbaridades sem pensar que elas acabarão vindo parar dentro de casa. Já começou. E decerto ainda vai piorar. Europeu também pode explodir. Exatamente como asiático explode. É a mesma coisa.
E o mundo ocidental se horroriza com o que aconteceu na Europa. Mas por que não se horroriza quando acontece nos outros continentes?
Blumenau 12 de março de 2004.
Urda Alice Klueger
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