segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Pensamento Vivo - Origem e atualidade da filosofia italiana de Roberto Esposito

Editora UFMG lança Pensamento Vivo - Origem e atualidade da filosofia italiana de Roberto Esposito

 

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Um pensamento vivo. Entrevista com Roberto Esposito

A relação conflitiva com o poder é o traço característico da filosofia italiana, melhor representada por algumas figuras intelectuais e pelo feminismo. De retorno dos Estados Unidos onde manteve uma série de conferências em Nova York, Chicago e Los Angeles e onde participou da convenção à qual nos referimos aqui ao lado, Roberto Espósito torna a refletir sobre o êxito crescente que a filosofia italiana está registrando fora das próprias fronteiras.

A reportagem é de Roberto Ciccarelli, publicada no jornal Il Manifesto, 14-10-2010. A tradução é de Benno Dischinger.

"Desde seu nascimento a filosofia italiana é estranha às categorias usadas pela filosofia européia – afirma o autor de Pensamento vivo. Origem e atualidade da filosofia italiana [Pensiero vivente. Origine e attualità della filosofia italiana] (Einaudi, 265 pp. 20 euros). – Ela não tem uma natureza lógica como a anglo-saxônica, nem metafísica como a alemã, mas é plenamente mundana. Usa linguagens como a política com Maquiavel, a história com Cuoco, a literatura com Leopardi. Nos EUA, o interesse por esta filosofia, como pelo obreirismo e o feminismo, é devido a três razões: sua indiferença às instituições como o Estado-Nação ou a Igreja, sua vocação para o conflito e a construção de uma alternativa com respeito aos blocos constituídos do poder, bem como seu interesse por um pensamento afirmativo da vida e da historia".

Eis a entrevista.

Os italianos voltaram a emigrar para fazer filosofia. Quem nasceu dos anos setenta em diante o faz porque o Estado não tem nenhum interesse em financiar a pesquisa. Qual é a responsabilidade da universidade neste êxodo?

Eu tive uma vida cômoda. Sempre trabalhei em Nápoles, faço parte do sistema acadêmico, mas já não posso agora negar a situação. A universidade italiana está correndo o risco de tornar-se uma instituição estéril que hospeda alguns estudiosos de valor. Mario Tronti, no entanto, se aposentou sem se ter tornado professor ordinário. Giorgio Agamben deixou-a há pouco. A mesma dificuldade passaram-na Derrida, Foucault ou Balibar na França. O saber acadêmico é sempre normalizante e normativo. As tentativas de inovação ou desconstrução tendem a ser expulsas ou marginalizadas em seu interior. Na Itália os caracteres conservadores desta instituição são muito fortes. Croce recusou-se a ensinar por este motivo. A situação tem piorado nos últimos anos e não só por responsabilidade do governo atual. O precedente ministro de esquerda não produziu resultados melhores. O que hoje emerge é a desvalorização do trabalho intelectual em todas as suas formas. É necessário encontrar os instrumentos para opor-se a esta tendência, e não se resignar a apoiá-la ou aceitá-la.

Quanto influiu sobre a gênese da filosofia italiana sua relação antagonística com o poder?

Este é um problema originário que a levou a maturar uma vocação para o conflito. Ainda hoje a distância dos poderes constituídos é a força do pensamento conflitivo. Sua debilidade é não ter construído uma identidade a partir de um território homogêneo, com uma capital e uma soberania única. Numa época de globalização este elemento é julgado mais como um recurso, do que como uma falta. Nos últimos anos eu me dei conta que esta transformação de sentido mudou o modo de escrever a história do nosso pensamento. Por isso, propus no meu livro um "anticânone", oposto ao usado pela historiografia idealista de Bertrando Spaventa em diante, baseado na contaminação entre léxicos diversos. O pensamento italiano não é um pensamento da identidade, mas da desterritorialização.

Na tua reconstrução fala uma só vez de Spinoza, sua filosofia tem estado por 150 anos no centro de um movimento europeu laico e materialista próximo à burguesia e às classes populares. Por que razão o defines como "o mais italiano dos filósofos", visto que não é assimilável ao elitismo cosmopolita que Gramsci contestava aos intelectuais italianos?

Defini assim Spinoza porque também sua filosofia está fundada sobre a resistência e sobre o antagonismo. Seja embora em termos idealistas, e não materialistas, o próprio Gentile reconheceu que Bruno e Spinoza entram na linha comum do pensamento da imanência. Spinoza compartilha com Machiavel, Pareto e Croce um pensamento realista e não utopista da política.

No entanto, o espinozismo continua sendo uma proposta de mobilização que falta na Itália. Talvez seja devido ao fato de que o pensamento italiano jamais contou com a potência social, econômica e civil que, ao invés, inspirou Spinoza?

Diversamente do espinozismo, o pensamento italiano é o resultado da ruptura com a ontologia social. Neste país não tem faltado apenas uma relação com o estado moderno, mas também a relação com uma sociedade produtiva em sentido econômico. Esta falta tem determinado o espírito apolítico dos filósofos. Vico, por exemplo, que foi um grande pensador, trabalhava como preceptor e fez isso por toda a vida.

Quanto pesa hoje esta situação?

Muito. É singular que alguns autores italianos tenham mais presença no exterior. É um problema que investe tanto a universidade, quanto o contexto social e político-institucional. Isso não tolhe que seja necessário continuar a fazer filosofia para construir dispositivos que analisam nossa vida e para produzir uma força performativa, como pensamento e movimento, que transforme a realidade. Se se abrisse na Itália uma reflexão sobre estes temas, poder-se-ia aviar uma batalha cultural.

A filosofia italiana não superou o preconceito que levou Croce a definir quem trabalhava nas terras dos Abruzzi "bolas lisas de bilhar". Em vez de criar as condições para uma aliança social, esta filosofia considera o conflito somente em termos teóricos, com o resultado de neutralizá-lo. Como explica esta tendência?

A crítica de Gramsci a Croce ainda é válida. É preciso, todavia, considerar que Gramsci raciocinava a partir de uma idéia de partido político, de bloco social e de divisão entre as classes que não existem mais. No plano dos princípios temos hoje uma direita de tipo subversivo e uma esquerda de tipo defensivo e legalitário, cujas categorias ainda são internas ao direito soberano e ao Estado. É de todo assente a compreensão do plano biopolítico que, ao invés, é acolhido por Berlusconi, inconsciamente ou perseverantemente. A esquerda continua de todo estranha ao discurso sobre os corpos, ao desejo, às dinâmicas coletivas. Pasolini foi um dos poucos que intuiu a mutação antropológica que conduziu à construção de um regime biopolítico que se funda sobre a identificação com o Chefe e sobre o gozo diferido que elide a possibilidade do conflito. O berlusconismo limita o conflito às elites, ao imaginário ou à legalidade.

De que modo a incapacidade de encontrar alternativas políticas ao berlusconismo influi no pensamento político italiano?

Isto certamente não é um problema somente dos filósofos, mas de todo o país. Não resta dúvida que a vintena de anos do berlusconismo e a incapacidade da esquerda de compreendê-lo tenham impedido de repensar o conflito à altura da realidade italiana. A crise na qual vivemos tem neutralizado a busca de uma subjetividade política. Poder-se-ia dizer que não há nada de novo, a filosofia política moderna sempre trabalhou para neutralizar o conflito. Mas, hoje despontam fortes tendências à imunização que tornam difícil reconectar o conflito com o plano da imanência.


E é por isso que na Itália se voltou a refletir sobre o teológico-político?

Sim, porque, quem não entende a gênese desta crise prefere abandonar o mundo terreno à espera de uma solução messiânica. Este problema nasce da antinomia entre o estar "dentro e contra" que eu advirto no obreirismo. Quando Antonio Negri escolhe a imanência – pois a revolução já está em ato – não esclarece as modalidades através das quais se desenvolve o conflito revolucionário. Deste modo, corre-se o risco de perder a eficácia do conflito. Tronti, ao invés, salva o conflito, mas renuncia à imanência. A redescoberta da transcendência impeliu-a renunciar à imanência e à história. A mesma crise política e social impeliu a soluções igualmente problemáticas Ernesto Laclau, Judith Butler ou Slavoj Zizek, os quais privilegiam um plano de análise psicanalítico, correndo, porém, o risco de neutralizar a subjetividade política que, no entanto, quereriam relançar.

Continua, no entanto, a faltar no teu discurso uma resposta à necessidade da transformação social. Falas, no entanto, da relação conflitiva da filosofia com o poder...

Não posso negar que estou também eu dentro desta contradição. As ambigüidades, os limites e os pontos de detenção da filosofia italiana são também os meus. Repito, por trás do pensamento italiano faltou até agora uma ontologia ativa de tipo social ou político. Continuam a prevalecer os impulsos à neutralização de tipo teológico-político, legalista ou de tipo lacaniano. Servirá uma passagem de época que nos permita superar este limite. Mas, semelhante superação só pode ocorrer graças a um movimento global, por certo não a partir da teoria. O pensamento político italiano permanece, no entanto, mais do que outros à escuta, mantém uma abertura para o possível. Por isso, é mais sensível à exigência da transformação.

extraido de http://www.ihu.unisinos.br/noticias/

Roberto Esposito - Conversazioni Serali 

 Roberto Esposito è forse oggi il pensatore italiano più conosciuto negli ambienti accademici internazionali. Nato a Napoli nel 1950, dopo gli studi in filosofia e letteratura italiana presso l'Università Federico II di Napoli ha intrapreso la carriera accademica, divenendo ordinario di Storia delle dottrine politiche e direttore del Dipartimento di filosofia e politica presso l'Istituto Universitario Orientale. Oggi è ordinario di Filosofia Teoretica e direttore della sede napoletana dell'istituto Italiano di Scienze Umane (SUM).

Condirettore e cofondatore nel 1987 della rivista "Filosofia Politica" (Il Mulino), ha collaborato in qualità di consulente con importanti riviste e case editrici specializzate. Studioso del lessico politico in una dimensione filosofica, Esposito ha evidenziato il carattere conflittuale della dimensione politica attraverso l'innesto di nuove categorie intellettuali, molte delle quali ispirate dalle opere di Hannah Arendt, Martin Heidegger e Friedrich Nietzsche. Tale percorso lo ha portato a mettere in contrasto, per esempio, i concetti di Communitas e Immunitas come i due poli dell'agire collettivo contrapposto all'agire individuale. Nell'ultimo periodo ha sviluppato un pensiero originale e innovativo, maturando un interesse da una parte per la biopolitica e dall'altra per la tradizione italiana del pensiero, proponendo l'Italian Theory come un'alternativa praticabile in risposta all'esaurimento delle filosofie analitiche e di quelle variamente irrazionalistiche. Le sue opere sono ormai tradotte in tutte le principali lingue del mondo e dai maggiori editori in lingua inglese.

Tra le sue opere: Categorie dell'impolitico, Il Mulino, 1988; Communitas. Origine e destino della comunità, Einaudi, 1998; Immunitas. protezione e negazione della vita, Einaudi, 2002; Bíos. Biopolitica e filosofia, Einaudi, 2004; Terza persona. Politica della vita e filosofia dell'impersonale, Einaudi, 2007; Pensiero vivente, Einaudi, 2010.

 

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