terça-feira, 9 de julho de 2013

FPA Informa 09

Na edição de hoje do Boletim de Conjuntura, publicamos uma entrevista exclusiva com o economista André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, discutindo o cenário atual para a inflação brasileira e a reunião do COPOM que ocorrerá esta semana.
O mês de junho registrou uma taxa de inflação (medida pelo IPCA) de 0,26%, menor do que a esperada pelo mercado. Qual sua perspectiva para a inflação em julho e até o fim do ano?
AP
: A dinâmica inflacionária deve se mostrar mais benigna em julho, principalmente devido à reversão dos aumentos registrados nos transportes coletivos em diversas cidades do país. Hoje o IPC-S deu sinais disso e veio bem abaixo da mediana projetada em 0,33%, ficando na primeira semana de julho em apenas 0,23%. Apesar disso, o IPCA parte de um patamar elevado de 6,7%, devendo recuar ao longo do segundo semestre e fechar o ano na casa dos 5,4%, segundo nossas projeções atuais.
Diante desta perspectiva, o que se pode esperar da reunião do COPOM nesta semana?
AP
: Nossa expectativa é que o COPOM aumente em 0,5% a taxa de juros nesta próxima reunião. A despeito das análises pessimistas que marcaram o mês de junho (onde em alguns momentos cogitou-se um aumento de 0,75% ou até 1% nos juros), acredito que os novos dados de inflação e crescimento, que indicam uma desaceleração de ambos, corroboram o cenário de elevação de 0,5%. Um aumento superior a 0,5% poderia sinalizar a inviabilização de uma série de novos produtos financeiros, como o FII ou FIDIC, que tem papel importante hoje no desenvolvimento do mercado financeiro brasileiro. Apesar da política monetária hoje ser mais potente que no passado (principalmente devido ao crescimento do endividamento das famílias), ainda se observam três canais de “poluição” da política monetária, que dificultam a gestão inflacionária por parte do BACEN: Em primeiro lugar, as manifestações de junho aumentaram a incerteza no mercado e influenciaram a taxa longa de juros, o que dificulta o manejo da política monetária; em segundo lugar, observamos uma política fiscal menos contracionista do que no ano passado, onde ninguém sabe ainda exatamente qual será o tamanho do esforço fiscal para este ano (apesar do anúncio de que haverá um novo esforço fiscal em breve, ainda de tamanho desconhecido); por fim, a política monetária norte-americana complicou o cenário internacional, trazendo muita incerteza e levando o capital externo à migrar de volta para os EUA.
Você foi um dos poucos economistas a acertar o crescimento do primeiro trimestre deste ano. O que, em sua opinião, se pode esperar do crescimento econômico para o ano de 2013?
AP
: Não acredito que haverá um crescimento expressivo ao longo de 2013 e a maior parte do mercado está convergindo para esta visão, como é possível observar hoje no boletim FOCUS, onde os economistas projetam em média um crescimento de 2,34%. Nossa projeção se mantém em 2,1%, por três fatores principais: Primeiramente, verifica-se uma acomodação no varejo e no consumo das famílias que tende a persistir no médio prazo, devido à estabilização da taxa de desemprego, a diminuição na criação de vagas registrada no CAGED e a redução no ritmo de crescimento do crédito. O segundo fator diz respeito ao cenário externo, que deve permanecer ruim dado o cenário de baixo crescimento da economia internacional; por último, destaca-se o pessimismo generalizado que tomou conta do mercado financeiro e de alguns setores produtivos, que deve influir negativamente no crescimento do investimento privado ao longo do ano, apesar do eventual sucesso nos leilões de concessão ainda neste ano.
Como você vê este “pessimismo generalizado” citado acima? O mês de junho, que foi péssimo para a bolsa brasileira, pode se repetir nos próximos meses?
AP
:O mês de junho é um mês para ser esquecido. Ele não pode servir de parâmetro para os próximos meses, e quem assim o fizer pode se dar mal, pois o mercado deixou de fazer contas e foi levado por um sentimento não necessariamente racional. Apenas a título de exemplo, os dividendos em dólar pagos pelas empresas do IBOVESPA somaram 4,8% nos últimos 12 meses. No México, tão incensado recentemente pelo mercado, os dividendos em dólar no mesmo período somaram apenas 1,45%. No caso da Petrobrás, no fechamento do mercado em 2012 ela estava avaliada em US$ 124 bi, enquanto a ECOPETROL foi avaliada em US$127 bi, com uma diferença: O revenue da ECOPETROL foi de US$ 33 bi e o da Petrobrás de US$ 144 bi no período. O pessimismo contaminou os cálculos do mercado, que deixo de fazer contas, levando-nos à situação atual observada no mercado financeiro nacional.
E qual o papel do governo agora? O que a equipe econômica deveria fazer para reverter este cenário?
AP
: Não há mais espaço para enfrentamentos diretos com o mercado financeiro. O governo, que recentemente comprou grandes e importantes brigas (como a redução da taxa de juros, a desvalorização cambial e a redução das tarifas de energia elétrica), não pode manter o ritmo de enfrentamentos, devendo adotar uma política mais market-friendly caso queira reconquistar a confiança de setores do mercado financeiro e mesmo do empresariado. Obviamente que uma melhoria no cenário externo, particularmente com uma definição mais clara da política monetária americana, é fundamental para a reversão do cenário atual de pessimismo. No entanto, é recomendável que a equipe econômica deixe mais claro seus objetos e sua estratégia, principalmente no campo fiscal e cambial. Por exemplo, durante muito tempo a equipe econômica reforçou a tese de que a taxa de câmbio estaria sobrevalorizada, defendendo uma desvalorização cambial. Agora que esta desvalorização ocorreu, toma-se uma série de medidas para revertê-la. Fica a impressão de que não há uma estratégia clara, ou que ela não está sendo bem comunicada, o que afeta os humores do mercado e rebaixa a confiança na economia brasileira.
Análise: Guilherme Mello, Economista

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