Na edição de hoje do
Boletim de Conjuntura, publicamos uma entrevista exclusiva
com o economista André Perfeito, economista-chefe da
Gradual Investimentos, discutindo o cenário atual
para a inflação brasileira e a reunião
do COPOM que ocorrerá esta
semana. |
O mês de junho registrou uma
taxa de inflação (medida pelo IPCA) de 0,26%,
menor do que a esperada pelo mercado. Qual sua perspectiva
para a inflação em julho e até o fim do
ano?
AP: A dinâmica inflacionária
deve se mostrar mais benigna em julho, principalmente devido
à reversão dos aumentos registrados nos
transportes coletivos em diversas cidades do país.
Hoje o IPC-S deu sinais disso e veio bem abaixo da mediana
projetada em 0,33%, ficando na primeira semana de julho em
apenas 0,23%. Apesar disso, o IPCA parte de um patamar
elevado de 6,7%, devendo recuar ao longo do segundo semestre
e fechar o ano na casa dos 5,4%, segundo nossas
projeções
atuais. |
Diante desta perspectiva, o que se
pode esperar da reunião do COPOM nesta
semana?
AP: Nossa expectativa é que o COPOM aumente em
0,5% a taxa de juros nesta próxima reunião. A
despeito das análises pessimistas que marcaram o
mês de junho (onde em alguns momentos cogitou-se um
aumento de 0,75% ou até 1% nos juros), acredito que
os novos dados de inflação e crescimento, que
indicam uma desaceleração de ambos, corroboram
o cenário de elevação de 0,5%. Um
aumento superior a 0,5% poderia sinalizar a
inviabilização de uma série de novos
produtos financeiros, como o FII ou FIDIC, que tem papel
importante hoje no desenvolvimento do mercado financeiro
brasileiro. Apesar da política monetária hoje
ser mais potente que no passado (principalmente devido ao
crescimento do endividamento das famílias), ainda se
observam três canais de
“poluição” da política
monetária, que dificultam a gestão
inflacionária por parte do BACEN: Em primeiro lugar,
as manifestações de junho aumentaram a
incerteza no mercado e influenciaram a taxa longa de juros,
o que dificulta o manejo da política
monetária; em segundo lugar, observamos uma
política fiscal menos contracionista do que no ano
passado, onde ninguém sabe ainda exatamente qual
será o tamanho do esforço fiscal para este ano
(apesar do anúncio de que haverá um novo
esforço fiscal em breve, ainda de tamanho
desconhecido); por fim, a política monetária
norte-americana complicou o cenário internacional,
trazendo muita incerteza e levando o capital externo
à migrar de volta para os
EUA. |
Você foi um dos poucos
economistas a acertar o crescimento do primeiro trimestre
deste ano. O que, em sua opinião, se pode esperar do
crescimento econômico para o ano de 2013?
AP: Não acredito que haverá um
crescimento expressivo ao longo de 2013 e a maior parte do
mercado está convergindo para esta visão, como
é possível observar hoje no boletim FOCUS,
onde os economistas projetam em média um crescimento
de 2,34%. Nossa projeção se mantém em
2,1%, por três fatores principais: Primeiramente,
verifica-se uma acomodação no varejo e no
consumo das famílias que tende a persistir no
médio prazo, devido à
estabilização da taxa de desemprego, a
diminuição na criação de vagas
registrada no CAGED e a redução no ritmo de
crescimento do crédito. O segundo fator diz respeito
ao cenário externo, que deve permanecer ruim dado o
cenário de baixo crescimento da economia
internacional; por último, destaca-se o pessimismo
generalizado que tomou conta do mercado financeiro e de
alguns setores produtivos, que deve influir negativamente no
crescimento do investimento privado ao longo do ano, apesar
do eventual sucesso nos leilões de concessão
ainda neste
ano. |
Como você vê este
“pessimismo generalizado” citado acima? O
mês de junho, que foi péssimo para a bolsa
brasileira, pode se repetir nos próximos
meses?
AP:O mês de junho é um mês para ser
esquecido. Ele não pode servir de parâmetro
para os próximos meses, e quem assim o fizer pode se
dar mal, pois o mercado deixou de fazer contas e foi levado
por um sentimento não necessariamente racional.
Apenas a título de exemplo, os dividendos em
dólar pagos pelas empresas do IBOVESPA somaram 4,8%
nos últimos 12 meses. No México, tão
incensado recentemente pelo mercado, os dividendos em
dólar no mesmo período somaram apenas 1,45%.
No caso da Petrobrás, no fechamento do mercado em
2012 ela estava avaliada em US$ 124 bi, enquanto a ECOPETROL
foi avaliada em US$127 bi, com uma diferença: O
revenue da ECOPETROL foi de US$ 33 bi e o da
Petrobrás de US$ 144 bi no período. O
pessimismo contaminou os cálculos do mercado, que
deixo de fazer contas, levando-nos à
situação atual observada no mercado financeiro
nacional. |
E qual o papel do governo agora? O
que a equipe econômica deveria fazer para reverter
este cenário?
AP: Não há mais espaço para
enfrentamentos diretos com o mercado financeiro. O governo,
que recentemente comprou grandes e importantes brigas (como
a redução da taxa de juros, a
desvalorização cambial e a
redução das tarifas de energia
elétrica), não pode manter o ritmo de
enfrentamentos, devendo adotar uma política mais
market-friendly caso queira reconquistar a
confiança de setores do mercado financeiro e mesmo do
empresariado. Obviamente que uma melhoria no cenário
externo, particularmente com uma definição
mais clara da política monetária americana,
é fundamental para a reversão do
cenário atual de pessimismo. No entanto, é
recomendável que a equipe econômica deixe mais
claro seus objetos e sua estratégia, principalmente
no campo fiscal e cambial. Por exemplo, durante muito tempo
a equipe econômica reforçou a tese de que a
taxa de câmbio estaria sobrevalorizada, defendendo uma
desvalorização cambial. Agora que esta
desvalorização ocorreu, toma-se uma
série de medidas para revertê-la. Fica a
impressão de que não há uma
estratégia clara, ou que ela não está
sendo bem comunicada, o que afeta os humores do mercado e
rebaixa a confiança na economia
brasileira. |
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