sábado, 15 de dezembro de 2012

JUNCO de Nuno Ramos

JUNCO

de Nuno Ramos

No de Paginas:
120

Uma poesia áspera, como a areia da praia, incomoda, que se transfere da mão à boca, que suja a barra da calça e na barra reesfregou o tronco, um enorme estrepe em nosso olho. Olho que vê/lê a poesia dura, feia, mal cheirosa que sai ganindo atrás de nosso carro. A poesia de Nuno é tudo o que se confunde e o que se contrasta, um livro que me deu um soco na boca do estomago com as rimas rilhando como areia em meus dentes, ensanguentados. A poesia de Nuno , POESIA o é!

Flora Süssekind na apresentação da obra de Nuno Ramos nos diz que ..."Antes mesmo de sua publicação em livro, Junco ganhou de alguns de seus leitores um epíteto — “a máquina do mundo cão” — que parece difícil de descolar desse conjunto de poemas em que Nuno Ramos vem trabalhando nos últimos catorze anos. Não é preciso adivinhar a referência à busca do sentido do mundo, à “total explicação da vida” que espantosamente se abre aos olhos de um caminhante solitário, ainda que para se recolher, logo em seguida, e sem desfazer o enigma, como no poema de Drummond. A máquina do mundo se expõe diretamente aí em nota e em recortes brevíssimos, encravados nos textos. E se oferece, ainda, como cena primordial — no meio do caminho da vida — que organiza a paisagem marítima infernal — praia, praia, praia, praia - na qual se opera um misto de junção e tensão figural, que estrutura, em via dupla, mas em mútua interferência, a série poética de Nuno Ramos, entre os restos de um cachorro morto largado no asfalto e os de um cadáver de árvore, junco jogado na areia. E também entre texto e fotografia — pois, ao lado da sucessão de refigurações de cão e junco, reitera-se literalmente, ao longo do livro, a exposição de imagens do tronco na beira do mar e do cachorro morto no chão.

A trama dupla, no entanto, se sugere o analógico, é para travá-lo em seguida. Mesmo que as fotos os apresentem em disposição quase idêntica, parecendo reforçar comparações, é impossível não ver a matéria diversa de que são feitos animal e caule.

Pois cão é cão e junco é planta. E mesmo que o caule se exponha como cão-lagarto, lambendo algas, e ao cão, no asfalto, se possa ver como junco, lenha, banha, planta, persiste a dissimetria. E é pela insistência nesse paralelismo, mas a distância, das imagens que Nuno Ramos se avizinha, em movimento largamente expansivo, do belíssimo jogo entre bala, relógio e lâmina, rea­lizado por João Cabral de Melo Neto em Uma faca só lâmina.

Acrescentando-se, assim, a um modo cindido de figuração (reduplicado, ainda, entre lágrima e onda) outra tensa articulação — entre o poema narrativo e a composição serial, e entre o formato circunflexo, expressivo, do rosto e o livro silencioso de areia com que se encerra o último poema. "

O AUTOR
Nuno Ramos
Nascido em São Paulo (SP), em 1960, Ramos é autor de O mau vidraceiro (2010), Ó (2008, Prêmio Portugal Telecom), Ensaio geral (2007), O pão do corvo(2001), Cujo (1993) e do recém-lançado livro de poemas Junco. Sua produção literária abrange e mescla diversos gêneros, como ensaio, poesia, conto, crônica e romance. Em paralelo às letras, Nuno Ramos é um premiado artista plástico, tendo participado das bienais de arte de São Paulo e de Veneza e realizado inúmeras exposições individuais e coletivas no Brasil e no exterior. Em 2006, recebeu, pelo conjunto da obra plástica, o Grant Award da Barnett and Annalee Newman Foundation






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