domingo, 9 de maio de 2010

Espaço Krajcberg abriga mostra permanente de obras doadas à cidade


O Espaço Cultural Krajcberg, unidade da Prefeitura Municipal de Curitiba mantida pela Fundação Cultural, recebeu no mês de abril cerca de 12.700 visitantes. Dentre os que passaram pelo local, alunos da rede pública e privada de ensino e turistas que diariamente visitam o Jardim Botânico, um dos pontos turísticos mais procurados da cidade.

Espaço de arte e de educação ambiental, o local abriga uma exposição permanente das obras de Frans Krajcberg, artista reconhecido internacionalmente pelo seu engajamento na preservação da natureza. Criado oficialmente em 2003 para abrigar as obras doadas pelo artista ao município, a galeria recebe anualmente cerca de 60 mil visitantes.

No Espaço estão esculturas de grandes dimensões, feitas com cipós e troncos de madeira queimada, retirados diretamente de florestas onde houve depredação. No total são 110 esculturas de grande porte subdivididas em séries e classificadas pelo artista conforme as características do material: série palmas, mangue, grandes troncos, cipós, queimadas, cipós texturas rugosas, palmeira e bolas. Além das esculturas, o acervo é composto ainda por 11 fotografias, três assemblagens e uma gravura em relevo, vídeos, textos e publicações que formam um centro de documentação e servem de base para ações educativas.

A escolha do local para abrigar o acervo doado foi feita pelo próprio artista que também realizou a curadoria, escolhendo pessoalmente onde cada obra deveria ser exposta. O espaço já havia sido utilizado na mostra “A Revolta”, que foi exibida em Curitiba em 1995, com curadoria de Orlando Azevedo, então Diretor de Artes Visuais da Fundação Cultural. Devido ao grande sucesso de sua primeira passagem pela cidade, e pela consciência ecológica atribuída à Curitiba, o artista optou por doar parte de seu acervo para o município.

A programação, a cargo da Fundação Cultural de Curitiba, envolve, além da exposição permanente, mostras de vídeo, debates, seminários, visitas monitoradas para escolas e outras ações que visam a educação ambiental e a discussão sobre artes visuais.

Preservação – Pelo Decreto 281/03, a Fundação Cultural foi designada como gestora do Espaço Cultural Frans Krajcberg, sendo responsável pela administração do espaço e conservação das obras. Porém, para restauro ou qualquer intervenção, nas obras e no espaço museográfico, há a necessidade de autorização do artista.

Em 2005, início da gestão do Prefeito Beto Richa, a Fundação Cultural de Curitiba criou o Programa de Organização e Recuperação de Acervos, para reorganizar a documentação e a situação legal de obras e coleções sob sua guarda. Uma das primeiras iniciativas foi realizar o inventário, avaliação e diagnóstico do estado de conservação das obras de Krajcberg e providências para regularizar a doação do acervo, já que o mesmo ainda não havia sido passado oficialmente para o município. Assim, em setembro de 2005, o artista assinou o Termo de Doação do acervo que passou a integrar oficialmente o patrimônio artístico da cidade, sob guarda e responsabilidade da Fundação Cultural de Curitiba.

Considerando o caráter singular das obras e as características da constituição da matéria com que foram produzidas, ou seja, materiais orgânicos, e o alto grau de fragilidade das peças, somado às intempéries climáticas que provoca naturalmente a decomposição biológica das obras, a FCC estruturou um plano de ação para garantir, permanentemente a preservação do acervo de Frans Krajcberg. Desde então, uma série de ações foram colocadas em prática:

Setembro a novembro de 2006 – Atendendo solicitação da Diretoria de Patrimônio Cultural da FCC, e por indicação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional/IPHAN, é contratado o Centro de Conservação e Restauro da Universidade Federal de Minas Gerais (CECOR), o maior centro especializado da América Latina. A equipe, sob a orientação do Dr. Luiz Antonio Cruz Souza, produziu e entregou um extenso laudo técnico-científico, relativo à adequação ambiental do espaço físico e à preservação do acervo artístico. Com base nas indicações especializadas, a FCC realizou serviços de readequação do espaço Frans Krajcberg, buscando melhorar as condições físicas e ambientais do prédio e de conservação das obras.

2007 - Simultaneamente, e ao longo de toda a gestão, vistorias constantes e ações permanentes de conservação preventiva foram realizadas pelo Setor de Conservação de Acervos da Diretoria de Patrimônio Cultural. A equipe contou com o apoio voluntário da arquiteta Wivian Diniz, formada pelo CECOR-MG, e co-autora do laudo técnico, com discussão teórica e técnica, monitoramento, avaliação e orientação a respeito da conservação do material altamente degradável, do qual as obras são produzidas.

2007-2008 - Foram intensificadas as ações de monitoramento das peças, com vistorias mensais e ações de higienização. Considerando o aceleramento da deterioração das obras intervenções de maior porte mostraram-se inadiáveis. Diversos contatos foram feitos com o artista e seu assessor para definição dos procedimentos para recuperação das obras. Também foram feitos orçamentos para restauro das peças, porém sem retorno efetivo por parte do artista, a contratação não pode ser realizada.

Outubro/novembro 2008 - Em razão do Decreto de criação do espaço - de que intervenções de restauro devem ser autorizadas pelo artista, e seu executor por ele instruído, diversas tentativas de contato foram feitas pela FCC, e em decorrência o Sr. José Alves (Zé do Matto), assessor de Krajcberg, esteve em Curitiba e se dispôs a realizar pessoalmente os serviços de restauro. Em paralelo, foi autorizada a liberação de recursos do Fundo Municipal da Cultura, no montante de R$ 306.000,00, para contratação de serviços de preservação do espaço, dos quais R$ 241.000,00 para restauro das obras e R$ 65.000,00 para readequação museográfica do espaço.

Em 21 de novembro de 2008, o presidente da FCC, Paulino Viapiana, em cumprimento às exigências contratuais e, em consideração às recomendações pessoais do artista, realizou viagem ao Rio de Janeiro para comunicar-lhe o andamento do plano de salvaguarda das obras, e obter a autorização formal para dar andamento ao processo de restauro. Surpreendentemente, o artista recusou-se a dar o consentimento, dizendo-se contrário a qualquer tipo de intervenção.

2009 – Como medida preventiva e visando a melhor conservação das obras, o Espaço Cultural Krajcberg foi fechado para manutenção. Durante o período de fechamento, foi levantado o interesse do Boticário, que estava assumindo a preservação do Jardim Botânico, de executar o projeto elaborado pelo arquiteto Fernando Canalli, da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, que reunia num só espaço as obras de Krajcberg e o Estação Natureza. Pela proposta apresentada, acompanhada inclusive de maquete, haveria uma ampliação do espaço atual, com a readequação necessária para abrigar e preservar o acervo, mantendo-se as características definidas originalmente pelo artista. Porém, de acordo com o Dr. Miguel Krigsner, do Boticário, que falou pessoalmente com Krajcberg, ele não autorizou a execução do projeto.

2010 – Como forma de preservar o acervo, a Fundação Cultural de Curitiba, com o apoio da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, deu início a elaboração de um novo projeto de readequação do espaço, que prevê a troca da cobertura da Galeria pelo mesmo material original, para não descaracterizar o espaço escolhido pelo Krajcberg. Também será readequado o sistema de climatização, além de serem intensificadas as ações de monitoramento das peças, com vistoria permanente e ações de higienização constante. O espaço é reaberto ao público.

O presidente da FCC, Paulino Viapiana, destaca que Curitiba se orgulha de ter em seu acervo as obras de Frans Krajcberg e que faz parte da política cultural da cidade manter salvaguardados todos os bens que pertencem ao seu patrimônio, e que “caso permaneça a recusa do artista em autorizar o restauro das obras, o município estuda a possibilidade de tentar realizar o trabalho de forma legal, recorrendo, se preciso, à justiça. Não o fizemos até o momento em respeito ao grande artista que é Frans Krajcberg.”

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