quinta-feira, 17 de setembro de 2009

A Mão Estendida de Zardo


As mãos habilidosas estão de folga. Não talham mais a madeira, não esculpem o mármore e tampouco dão forma à cerâmica, que vem fumegando dos fornos de seu ateliê. Olhando para as salas da Galeria de Arte Um Lugar ao Sol, Faustino Zardo está escolhendo os locais para as cerca de 40 obras que ali estarão a partir do dia 17 de setembro. Mas dessa vez, apenas cerâmica nos trabalhos expostos pelo escultor. Instalações, trabalhos na técnica raku e até quadros em cerâmica marcam o início de uma série especial, na qual Zardo irá trabalhar sempre um único material por vez, sendo o primeiro deles a cerâmica.
Pequenos pedaços de vidro e pigmentos de cores derretem, se fundem e escorrem sobre a cerâmica para dar o brilho dessa espécie de verniz artístico, que Zardo utiliza na técnica raku. Difícil encontrar uma peça igual à outra, nesse processo. Da mesma maneira que a tinta escorre sobre a escultura, o verniz das mãos de Zardo formam peças que envolvem o olhar, preenchem o ambiente e dão cor ao pensamento. Uma união habilidosa de todos os pontos possíveis da imaginação em uma só obra.
Essa técnica cognitiva da escultura, talvez Zardo tenha aprendido nos três anos que passou em Carrara, na Itália. Capital mundial da escultura, lá conviveu com artistas de todas as partes do globo. Talhou sua capacidade eclética e aprendeu a unir pontos para ampliar sua obra tanto na interpretação de críticos e admiradores, quanto no seu aspecto físico. É dele, por exemplo, a maior escultura em bronze da América Latina: um cristo de 12m que está em Santa Helena, a beira do lago de Itaipu. Também executou trabalhos para o Panamericano do Rio de Janeiro, e para o artista alemão A. R. Penk, um dos mais laureados artistas contemporâneos da atualidade. As mãos de Zardo já não apontam mais os locais para as esculturas. Agora seguram a carta de recomendação do alemão, que conheceu em Carrara.
Na cidade italiana, também ganhou intimidade com seu parceiro de vida. O mármore de suas esculturas. Morava no topo de uma pedra do mais puro mármore branco. A impressão que fica, para quem passa por entre as obras de Zardo é que a imaginação é tão branca e pura quanto o mármore de Carrara, e ao mesmo tempo tão maleável e colorida como a cerâmica. O verniz dela, quem dá é o próprio admirador, que na exposição vira parceiro e amigo da arte. Cer Amica é mais que uma exposição, é um convite a esta amizade.

Sobre Zardo
Faustino Zardo começou a se interessar por arte quando estava passeando pelas ruas de Timbó, em Santa Catarina. Passou na frente de um ateliê de esculturas, e por pura curiosidade, resolveu entrar para conhecer. Ficou ali por alguns anos, aprendendo com o primeiro mestre, Max Hartman, a técnica da escultura em madeira. A habilidade manual natural, Zardo puxou do pai, que foi pedreiro e estava sempre construindo. Já a visão poética, foi fruto de muito trabalho e muita convivência com outros artistas do mundo inteiro, quando resolveu deixar tudo no Brasil e seguir para Carrara, na Itália, para aprender a trabalhar com o mármore.
Na capital mundial da escultura, Zardo estudou tanto as esculturas religiosas, como a arte contemporânea, e foi com essa última que realizou uma exposição em Pisa, na região de Florença. Ao todo, foram três anos em Carrara, aonde até hoje volta para comprar o mármore que utiliza em suas esculturas. “Tenho que escolher a pedra pessoalmente, para ver se está nas condições certas para o meu trabalho”, comenta. Além da madeira, da cerâmica, do mármore de Carrara, Zardo também trabalha com o mármore Nero di Belgica.


Serviço:
Exposição Cer Amica - Faustino Zardo
Abertura da exposição: 17 de setembro
Horário: 19h
Local: Galeria de arte Um lugar ao Sol – Av. Jaime Reis, 134 – São Francisco
Visitação : de 17 a 27 de setembro

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