Suicídios exemplares,
de Enrique Vila-Matas
208 páginas
Em seu quinto livro pela Cosac Naify, o catalão Enrique Vila-Matas constrói, com ironia e humor afiado, dez histórias em que os protagonistas flertam constantemente com o suicídio. Este, porém, nunca chega a acontecer de fato - pelo menos não da forma como se imagina. Escrito em 1991, o livro já possui o germe do "não" (suicidar-se, desparecer, não escrever) que aparecerá em Bartleby e companhia e outros títulos do autor. Em Suicídios exemplares, a ideia de se matar torna-se a saída para as decepções ou ausências nas vidas dos personagens, mas algo sempre acontece e muda o desfecho esperado. Com narrativas cheias de imaginação, sutileza e inteligência, a obsessão pelo suicídio acaba, paradoxalmente, por afastar a tentação da morte, e torna-se um incentivo para a vida, transformando positivamente a ação dos heróis de Vila-Matas.
Ao contrário do que acontece nas páginas de um Juan Carlos Onetti, com sua quantidade verdadeiramente prodigiosa de suicidas, os personagens que nos guiam pelos dez contos de Suicídios exemplares não se matam. Em Onetti, há também os derrotados que escapam do suicídio por meio da fantasia – personagens que, nas palavras de Vargas Llosa, “inventam para si mundos puramente imaginários nos quais se refugiam e conseguem sobreviver”. No livro de Vila-Matas, no entanto, o que afasta a tentação do suicídio é, paradoxalmente, a obsessão pela ideia de se matar. Parece irônico, e é.
Se em O mal de Montano “as doenças são chaves que podem nos abrir certas portas”, aqui é a ideia do suicídio que tem este poder. No conto “Rosa Schwarzer volta à vida”, a protagonista, uma funcionária de museu que leva uma vida monótona, passa o tempo todo imaginando modos de morrer: cometer haraquiri, envenenar-se, atirar-se na frente de um carro. Precisa percorrer este itinerário sombrio, o de um mundo que não lhe parece suficiente, para no fim afastar a ideia de se matar e “voltar à vida”.
O personagem de “Morte por saudade”, por sua vez, lembra de quando, na infância, ouviu falar pela primeira vez “de um movimento que às vezes se produzia no homem e que se chamava suicídio” e de como isso o acompanhou por toda a vida. “Em busca do parceiro eletrizante” é a história de um ator decadente que sai à procura de um parceiro para formar uma dupla cômica e voltar a fazer sucesso. Mas descobre que o tal parceiro ideal morreu, só lhe restando o suicídio, para conseguir formar, no além, a incrível parceria. Há contos passados em ilhas inventadas, histórias em que o protagonista morre às vésperas de se suicidar, tramas que se desenrolam em uma sociedade secreta de suicidas.
Por meio de implacável ironia e histórias cheias de ação, Suicídios exemplares comemora e celebra a vida ao perder-se no labirinto do suicídio. O que prevalece na obra, além da grande imaginação, são o humor, a sutileza, a inteligência. “Sofisticada ou impulsiva, ponderada ou captada no ar em um instante de tédio, a ideia do suicídio aqui nunca é um signo de derrota”, escreve o argentino Alan Pauls no texto de apresentação desta edição. “É um princípio de potência: algo na vida range, se abre e começa a ser possível quando as criaturas que povoam estas páginas se deixam possuir pela ideia de se matar.”
Ao contrário do que acontece nas páginas de um Juan Carlos Onetti, com sua quantidade verdadeiramente prodigiosa de suicidas, os personagens que nos guiam pelos dez contos de Suicídios exemplares não se matam. Em Onetti, há também os derrotados que escapam do suicídio por meio da fantasia – personagens que, nas palavras de Vargas Llosa, “inventam para si mundos puramente imaginários nos quais se refugiam e conseguem sobreviver”. No livro de Vila-Matas, no entanto, o que afasta a tentação do suicídio é, paradoxalmente, a obsessão pela ideia de se matar. Parece irônico, e é.
Se em O mal de Montano “as doenças são chaves que podem nos abrir certas portas”, aqui é a ideia do suicídio que tem este poder. No conto “Rosa Schwarzer volta à vida”, a protagonista, uma funcionária de museu que leva uma vida monótona, passa o tempo todo imaginando modos de morrer: cometer haraquiri, envenenar-se, atirar-se na frente de um carro. Precisa percorrer este itinerário sombrio, o de um mundo que não lhe parece suficiente, para no fim afastar a ideia de se matar e “voltar à vida”.
O personagem de “Morte por saudade”, por sua vez, lembra de quando, na infância, ouviu falar pela primeira vez “de um movimento que às vezes se produzia no homem e que se chamava suicídio” e de como isso o acompanhou por toda a vida. “Em busca do parceiro eletrizante” é a história de um ator decadente que sai à procura de um parceiro para formar uma dupla cômica e voltar a fazer sucesso. Mas descobre que o tal parceiro ideal morreu, só lhe restando o suicídio, para conseguir formar, no além, a incrível parceria. Há contos passados em ilhas inventadas, histórias em que o protagonista morre às vésperas de se suicidar, tramas que se desenrolam em uma sociedade secreta de suicidas.
Por meio de implacável ironia e histórias cheias de ação, Suicídios exemplares comemora e celebra a vida ao perder-se no labirinto do suicídio. O que prevalece na obra, além da grande imaginação, são o humor, a sutileza, a inteligência. “Sofisticada ou impulsiva, ponderada ou captada no ar em um instante de tédio, a ideia do suicídio aqui nunca é um signo de derrota”, escreve o argentino Alan Pauls no texto de apresentação desta edição. “É um princípio de potência: algo na vida range, se abre e começa a ser possível quando as criaturas que povoam estas páginas se deixam possuir pela ideia de se matar.”
O AUTOR
Enrique Vila-Matas
Nascido em Barcelona (1948), Enrique Vila-Matas estreou na ficção em 1973 e desde então teve romances e contos publicados em vários países. Mas foi a partir de 2001, quando A viagem vertical ganhou o prêmio Rómulo Gallegos, um dos mais importantes entre os países hispano-americanos, que se transformou em um dos principais escritores contemporâneos. Premiado não só na Espanha, mas também na França, Vila-Matas é considerado hoje um autor cult, um escritor de escritores. Desde 2004, a Cosac Naify vem publicando seus principais livros, A viagem vertical (2004), Bartleby e companhia (2004), O mal de Montano (2005), Paris não tem fim (2007) e Suicídios exemplares (2009). Dando continuidade à publicação das obras do autor, a editora prepara o lançamento de Doutor Pasavento, ganhador do prêmio da Real Academia Española em 2006 e do Mondello - Città di Palermo (2009).
Para mais informações sobre o autor: www.enriquevilamatas.com
UM LANÇAMENTO
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