Passarinho fofoqueiro
Um passarinho me contou
que a ostra é muito fechada,
que a cobra émuito enrolada,
que a arara é uma cabeça oca,
e que o leão marinho e a foca..
xô , passarinho! chega de fofoca!
ARMAZÉM LITERÁRIO
- Ensaios
de José Paulo Paes
Organização -Vilma Arêas
Páginas - 376
Mestre da concisão e da objetividade no verso, José Paulo não precisava deixar de ser poeta na hora de se exercitar no ensaio. Os temas mais graves e complexos das obras de autores como Machado de Assis, William Blake ou Simone Weil são elaborados e investigados com fluência e elegância, como numa conversa com o leitor.
Desse modo, a prática do ensaísmo foi para José Paulo um modo a mais de atuação como escritor, além da poesia e da tradução. Freqüentemente ele se serviu do gênero como meio de refletir sobre o ofício de poeta e sua própria "linhagem" na poesia brasileira. Neste último caso estão os textos em que revisita as obras de modernistas como Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Murilo Mendes, por exemplo. Mais teórico, o ensaio "Para uma pedagogia da metáfora" expõe sua concepção de poesia como metáfora do mundo, que se confirma "no seu poder de revelar o universal no particular".
José Paulo também estava pessoalmente interessado na reflexão sobre a arte da tradução de poesia - que praticou incansavelmente até o fim da vida, tendo vertido para o português autores de várias línguas, como o americano William Carlos Williams, os gregos Konstantínos Kaváfis e Giorgos Seféris, o francês Paul Éluard e o alemão Rainer Maria Rilke, entre outros. Ao final do livro, o poeta deixa um pouco de lado o ensaísmo e envereda pelas memórias, com o tocante relato de sua experiência de escritor interiorano que se radicou na maior cidade do país e pôde, enfim, reivindicar o título de paulistano "por direito de conquista".
O AUTOR
José Paulo Paes
Neto de um livreiro e filho de um caixeiro-viajante, José Paulo Paes, como não conseguiu ingressar no curso de Química Industrial do Mackenzie, veio para Curitiba, onde onde formou-se no curso pretendido, onde começou na Literatura e juntou-se a artistas e escritores que freqüentavam o Café Belas-Artes (um bar paranista que ficava em frente à livraria Ghignone).
Na capital paranaense tornou-se amigo do poeta Glauco Flores de Sá Brito, do contista e crítico de cinema Samuel Guimarães da Costa, do crítico de arte Eduardo Rocha Virmond e do pintor Carlos Scliar. Também fez parte do grupo da livraria Ghignone. José Paulo Paes escreveu na revista JOAQUIM fundada por Trevisan (essa revista circulou nos anos 40).
O ALUNO - recebeu uma crítica severa de Carlos Drummond de Andrade, segundo qual Paes se procurava nos outros, isto é, era um poeta que não tinha luz própria.
Radicando-se em São Paulo em 1949 e lá exercendo a profissão de químico, Paes torna-se amigo de Graciliano Ramos, de Jorge Amado e de Oswald de Andrade. A partir de 1952, quando publicou seu segundo livro, Paes conseguiu ter luz própria no universo da poesia brasileira, publicando doze livros de poemas.
Paes abandonou a profissão de químico e trabalhou durante vinte e cinco anos como tradutor de escritores gregos, dinamarqueses, italianos, norte-americanos e ingleses.
Obras do autor publicadas
pela Companhia das Letras
ARMAZÉM LITERÁRIO
AVENTURA LITERÁRIA, A
LETRA PUXA A OUTRA, UMA
NÚMERO DEPOIS DO OUTRO, UM
POESIA COMPLETA
PROSAS SEGUIDAS DE ODES MÍNIMAS
REVOLTA DAS PALAVRAS, A
RI MELHOR QUEM RI PRIMEIRO
SOCRÁTICAS
DE A POESIA ESTÁ MORTA MAS JURO QUE NÃO FUI EU (1988)
Curitiba
O inventor no estado
era um pinheiro inabalável
inabaláveis pinheiros igualmente
o secretário da segurança pública
o presidente da academia de letras
o dono do jornal
o bispo o arcebispo o magnífico reitor
ah se naqueles tempos
a gente tivesse
(armando glauco dalton)
um bom machado!
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