terça-feira, 4 de dezembro de 2007

MELHOR MORRER DE VODCA, QUE DE TÉDIO

Aproveitando o relançamento de MINHA DESCOBERTA DA AMÉRICA
de VLADIMIR MAIAKOVSKI pela MARTINS EDITORA

POETA É ALGO QUE MORRE MUITO
por Eduardo Cruz

Desgraças à parte, nossos poetas românticos e boêmios eram dados a morrer de tuberculose, doença essa que grassava nas rodas da extravagância. Mas outros optaram por vias menos naturais e mataram-se. Em todos os tempos e todos os países isso vinha acontecendo, que o diga Goethe quando criou o seu jovem Werther. Que o diga os novos poetas (os neo-byronianos) góticos e outros tantos, em todas as épocas de nossa lira literária.
O escritor J.Toledo teve a ousadia de preparar o seu "Dicionário de Suicidas Ilustres" (editora Record) que relaciona personagens reais e da ficção que chegaram às vias de fato (às vezes malogradamente). Sem querer fazer apologia, metodicamente ele vai resgatando os nomes desses que desistiram da vida. Descobrimos por exemplo que Ruy Apocalypse, poeta e cronista mineiro (1934-1967), radicado em São Paulo, era um boêmio inveterado, morava só, na Rua Conselheiro Nébias, e o isolamento da grande cidade o induziu ao alcoolismo descontrolado e crônico que lhe acarretou diversos problemas profissionais. Em uma madrugada, atirou-se debaixo de um ônibus.
Outro poeta que não resistiu à boemia e depressão foi o português Mário de Sá-Carneiro. Nasceu em 19 de maio de 1890 em Lisboa, e teve como grande amigo Fernando Pessoa. É copiosa sua correspondência que relata suas dificuldades emocionais. Aos "26 anos incompletos retornou a Paris, sofreu uma crise moral e financeira, abandonou os estudos, brigou com o pai e passou a levar a vida boêmia da cidade". Conta-se que uma noite, em desespero, vestiu um smoking, trancou-se no quarto do hotel, deitou-se e envenenou-se com uma dose titânica de arsênico. Antes de se matar, enviou poesias inéditas à Pessoa, publicadas depois em 1937 com o título "Indício de Oiro".
Da Rússia temos o exemplo de Wladimyr Maiakovski, nascido em 19 de julho de 1893 em Bagdadi, e suicida-se em 14 de abril de 1930, em Moscou. Viveu intensamente, escandalizou, foi verdadeiramente revolucionário, na poesia, teatro e até cinema. Matou-se após concluir seu poema "A Plenos Pulmões". Curiosamente a sua frase, é melhor morrer de vodca do que de tédio, pareceu ser adequada para um poeta e músico punk, John Simon Ritchie, mais conhecido como Sid Vicious da banda inglesa Sex Pistols. No dia 2 de fevereiro de 1979, aos 24 anos, escreveu o seguinte poema dedicado ao grande amor de sua vida, Nancy, que havia morrido de overdose – "Você era minha menininha/e eu conhecia seus medos/ tanta alegria tê-la em meus braços/ e beijar suas lágrimas/ Mas agora você foi embora/ Só ha dor/e não posso fazer nada/ não quero viver essa vida/ se não posso vive-la com você". E suicidou-se ingerindo uma overdose de cocaína com vodca.


MINHA DESCOBERTA DA AMÉRICA
MAIAKOVSKI, VLADIMIR


"Em 1925, ainda na época da Nova Política Econômica (1921-25) que deu breve respiro à União Soviética, antes de ser substituída pela economia stalinista dos planos qüinqüenais, o poeta, escritor e performer Vladímir Maiakóvski, ardoroso intérprete cultural de sua pátria, empreendeu uma jornada de três meses à América Central e do Norte. Neste livro, traduzido diretamente do russo pela primeira vez no Brasil, Maiakóvski descreve de maneira viva e peculiar os passos dessa sua viagem: Havana, Cidade do México, Nova York, Chicago, Detroit desfilam sob seu olhar penetrante, que sabe captar o essencial sem perder de vista outros tempos e outros lugares. "



Número de páginas: 120

Editora: MARTINS EDITORA


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