quarta-feira, 28 de novembro de 2007

A última floresta – A Amazônia na era da globalização

Livro mostra ser possível aliar conservação à utilização sustentável de terras na Amazônia

Mark London, co-autor, vem ao Brasil para lançar o livro A última floresta - A Amazônia na era da globalização no próximo dia 6 de dezembro na livraria Martins, na praça do Patriarca, em São Paulo
A Martins Editora lança no próximo dia 6 de dezembro, quinta-feira, na livraria Martins da praça do Patriarca, A última floresta – A Amazônia na era da globalização. Escrito pelo advogado norte-americano Mark London e pelo jornalista, também norte-americano, Brian Kelly, o livro traz o registro da segunda série de viagens que os autores fizeram pela região entre 2003 e 2005. A primeira foi feita há 25 anos e resultou no livro Amazonas – um grito de alerta. A última floresta mostra, com o olhar distanciado do estrangeiro e o afeto do brasilianista, um retrato vívido e complexo de uma região cujo destino parece estar intimamente ligado ao futuro da Terra e que, por isso mesmo, costuma ser foco de debates acalorados. Ao contrário das opiniões que defendem a internacionalização da Amazônia, a postura adotada pelos autores é a “de que os problemas criados pelo desmatamento serão compartilhados pelo mundo, porém as soluções deverão ser criadas no Brasil”, porque a Amazônia é brasileira. A Livraria Martins fica na praça do Patriarca, 78, centro, São Paulo, SP, (11) 3106-9133.
Mark London hoje é advogado em Washington, D.C. Brian Kelly é editor-chefe da revista semanal U.S. News & World Report, Juntos também escreveram The four little dragons.
A última floresta - A Amazônia na era da globalização
Mark London e Brian Kelly
Tradução de Débora Landsberg
411 pp.

MINHAS QUERIDAS



MINHAS QUERIDAS SERÁ LANÇADO COM PALESTRA E LEITURA DE CARTAS

Depois de publicar uma edição especial em áudio-livro do clássico A hora da estrela e a coletânea Entrevistas, a Rocco encerra o ciclo de comemorações pelos 30 anos sem Clarice Lispector com o lançamento Minhas Queridas, neste domingo, dia 02, na Livraria da Travessa do Shopping Leblon, no Rio de Janeiro. Organizada pela pesquisadora e biógrafa de Clarice, Teresa Montero, o livro reúne 120 correspondências inéditas enviadas por Clarice Lispector às irmãs, Tânia Kaufmann e Elisa Lispector, entre 1940 e 1957. No encontro, além de bate-papo com Teresa Montero, haverá leitura de cartas pelas atrizes Cristina Pereira, Ester Jablonski e Solange Badin. A entrada é gratuita.
Em Minhas Queridas, Clarice Lispector relata suas impressões sobre as 31 cidades por onde passa, acompanhando o marido, o diplomata Maury Gurgel Valente, em suas missões no exterior, as novidades da literatura, da música, do cinema e do teatro, a descrição do seu processo criativo, suas angústias acerca da publicação e repercussão de seus livros, e revela uma história do amor e ternura entre ela e as irmãs em que a vida privada é pontuada por momentos importantes da história política da Europa e dos Estados Unidos.
Lançamento de Minhas queridas, de Clarice Lispector
Domingo, 2 de dezembro, às 18h
Livraria da Travessa Shopping Leblon (Rua Afrânio de Melo Franco, 290 lj. 205. Tel: (21) 3205-9002)
Bate-papo e leitura de cartas.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

São Paulo de Piratininga , capital dos Bandeirantes








POR EDUARDO CRUZ

De um certo modo ficou difícil contar alguma novidade acerca depois das comemorações dos 500 anos de Brasil.
Mas a história está aí , e dependendo da idade do cidadão e do livro didático do seu tempo de escola , de Capistrano de Abreu a Borges Hermida , temos muito desses 500 anos de Brasil para rever. De 1500 a 1640 , a chamada fase litorânea temos o delicioso banquete de Dom Pero Fernandes Sardinha , bispo acepipe dos Caetés em 1556. E temos Mem de Sá que mandou exterminar aquela nação inteira só por causa do regabofe. Temos a chegada dos jesuítas de dúbia história e mais à frente expulsos de Portugal e suas colônias. Temos o fracasso das capitanias hereditárias , onde já se praticava ao que parece o nepotismo desbragado e uma guerra fiscal lá a seu modo.
Mas nada disso daria uma dimensão do surgimento do verdadeiro Brasil. Aparentemente eterna referência do expansionismo capitalista por toda a América Latina . Estamos falando da fase bandeirista que em sucesso folhetinesco foi às tevês e reapresentou ao grande público os bandeirantes e as atividades e vocações do maior centro comercial e financeiro do país que é a cidade de São Paulo.
O curioso em contar-se a história dos 500 anos através dos Bandeirantes , é encontrar no presente as mesmas mazelas do passado , pagar nossa divida histórica com os índios e apresentar alguns heróis como pouco ou nada patriotas e merecedores de CPIs históricas... “sim, porque há documentos que provam “...
Na visão clássica , “partindo do litoral, os colonos foram aos poucos incorporando o território da América portuguesa ao âmbito do Império: mundo sempre em movimento onde as hierarquias sociais se superpunham com maior flexibilidade e rapidez; onde os limites geográficos foram até meados do século XVIII, fluidos e indefinidos” , escreve Laura de Mello e Souza em Formas provisórias de existência: a vida cotidiana nos caminhos, nas fronteiras e nas fortificações. Em sua visão , em decorrência do caminho , do movimento, constituiu-se a civilização paulista. Mas que civilização era essa aparentemente cheia de organização e desorganização , rica na ação e pobre nas posses, européia na índole , mas xenófoba na expropriação . Deixemos de conjecturas e vamos aos fatos.
Os primeiros jesuítas a desembarcarem no Brasil eram liderados pelo padre Manoel da Nóbrega e vieram dar com seus costados e sua missão “de salvar os índios” em 29 de março de 1549.Vieram com o governador geral Tomé de Souza e desde logo bateram de frente com os colonos que cá estavam. Para os colonos os “negros da terra” eram mão-de-obra indispensável, barata e servil. Para os jesuítas “alminhas a serem salvas a qualquer custo” , que lhes fossem cobertas as vergonhas , que não fornicassem com os colonos e que cultivassem para eles (jesuítas) suas terras .
O Padre José de Anchieta chegou ao Brasil em 1553 , e embora considerado um “santo” por muitos, consta de seus escritos a seguinte frase – “ Para esse gênero de gente não há melhor pregação do que a espada e vara de ferro”. Conta a lenda que quando era refém dos Tamoios em Ubatuba (SP) escrevia longos poemas devocionais na areia , já que não tinha papel . A lenda persiste garantindo que era a sua forma de memoriza-los . Melhor essa explicação do que inventar um copista que diligentemente ia recuperando os textos antes da maré .

Pois bem, mas é através deles dois que temos a fundação do que veio a chamar-se São Paulo de Piratininga. Quer dizer, não é bem assim – Na história oficial consta que “a fundação de São Paulo insere-se no processo de ocupação e exploração das terras americanas pelos portugueses, a partir do século XVI. Inicialmente, os colonizadores fundaram a Vila de Santo André da Borda do Campo (1553), constantemente ameaçada pelos povos indígenas da região. Nessa época, um grupo de padres da Companhia de Jesus, da qual faziam parte José de Anchieta e Manoel da Nóbrega, escalaram a serra do mar chegando ao planalto de Piratininga onde encontraram "ares frios e temperados como os de Espanha" e "uma terra mui sadia, fresca e de boas águas". Do ponto de vista da segurança, a localização topográfica de São Paulo era perfeita: situava-se numa colina alta e plana, cercada por dois rios, o Tamanduateí e o Anhangabaú. Nesse lugar, fundaram o Colégio dos Jesuítas em 25 de janeiro de 1554, ao redor do qual iniciou-se a construção das primeiras casas de taipa que dariam origem ao povoado de São Paulo de Piratininga. Em 1560, o povoado ganhou foros de Vila e pelourinho mas a distância do litoral, o isolamento comercial e o solo inadequado ao cultivo de produtos de exportação, condenou a Vila a ocupar uma posição insignificante durante séculos na América Portuguesa.
Já para Benedito Lima de Toledo professor-titular de História da Arquitetura da FAU-USP , o núcleo de São Paulo de Piratininga ao fim do século XVI era formado por um triângulo composto em seus vértices pelo Colégio dos Jesuítas, pelo Mosteiro de São Bento e pela Igreja de São Francisco( incluindo a igreja do Carmo). O formato triangular faz crer que a cidade cresceu dentro dos muros, que foram por vezes mudados para darem vez à expansão . E porque dos muros , em um lugar tão longe da costa? Os muros de taipa de pilão era para se protegerem do índio inimigo. Aquele que aprendemos nos livros ser dócil e amigo.
O mesmo que era a única fonte de sustento das 370 famílias de Piratininga, que a partir de 1571 , graças à iniciativa do capitão-mor de São Vicente, Jerônimo Leitão , puderam empreitarem-se no negócio da captura dos “negros da terra” . Na verdade São Vicente , antes de ser fundada por Martim Afonso já era conhecida como “porto de escravos” devido ao tráfico promovido por João Ramalho , e um embuçado histórico conhecido como Bacharel de Cananéia. Dizem que era um degredado. Muito citado , mas de identidade incerta e não sabida .
Em tempo, Piratininga quer dizer peixe seco em referência ais cardumes que ficavam à lama a secar depois das águas baixarem. O triângulo era dos poucos lugares desse núcleo realmente seco , pois cercado por rios que viviam em constantes alagamentos o resultado era caótico , como os que hoje chamamos de enchente e provocam 140 km de consgestionamentos.
Mas esses , que segundo alguns autores eram piratas do sertão também viam a meter-se em rusgas . Primeiro pelos índios , depois pelo ouro. E uma resistência ferrenha em seguir as regras ditadas pelo reino português. Os reinóis , eram inimigos declarados. É curioso ler em “A Muralha” de Dinah Silveira de Queiroz , a personagem , antes frágil , Basília , comportar-se como uma vingadora da família .”O ódio a excitava, tornava-a cheia de ânimo. Agora sua família estava reduzida à Mãe Cândida e a ela própria, já que Leonel era um meio-morto, um desamparado, largado de si mesmo e de Deus, solto no mundo e esquecido de sua gente. Lembrava-se das palavras de Borba Gato: ‘Os paulistas terão contra eles inimigos de assombrar’”. Isso em um romance histórico considerado até pueril por alguns críticos .
Borba Gato também é personagem em “O retrato do rei” de Ana Miranda onde fica claro que paulistas e reinóis o respeitavam . Talvez não o façam hoje ao ver a sua horrenda estátua na estrada do bairro de Santo Amaro , antiga cidade que ajudou a fundar e que foi absorvida por São Paulo. Mas no livro a autora nos trás com cores mais fortes o início do ciclo do ouro e a incrível Guerra dos Emboabas que durou três anos . Uma história cruel de cobiça e nenhuma ideologia , digamos , bandeirista.
No Rio de Janeiro , mesmo durante a missa , no sermão o tema viria a ser o ouro. Na Igreja do Carmo “embora tivessem a expressão grave e contrita, poucos tomavam seriamente o que dizia o sermonista. Quem, entre aqueles não dedicava a vida a acumular riquezas? Viviam regaladamente, nos prazeres. Engordavam seus corações em dias de matança.” Ainda no livro , Dom Fernando explica os paulistas ...”Os paulistas são selváticos, prima. Bravos, donos de uma truculenta liberdade, consideram-se diferentes dos outros moradores do país, o que não deixa de ser verdade. São rudes por fora e gentis por dentro, o contrário do que costumamos ser. Vaidosos, matam-se por uma honra ou distinção. Descobriram o ouro nos sertões, mas não sabem retirá-los das águas...”
Se eram rudes em estilo até tinham seus porquês. Alguns historiadores contam que enquanto as capitanias do norte eram servidas com seda, Fernão Cardim nos conta que os moradores sofriam por falta de navios. Em 1585 estavam por exemplo, completamente por fora da moda e ainda usavam o algodão tinto como tecido. Também como pensar em moda quando se lê por exemplo em Anchieta que “ a quarta vila na capitania de São Vicente é e Piratininga, que está 10 a 12 léguas pelo sertão e terra a dentro. Vão lá por umas serras tão altas que dificultosamente podem subir nenhums animais e os homens sobem com trabalho e às vezes de gatinhas por não despenharem-se”. Menos que nos atuais congestionamentos de fim de semana é claro.
Mas quem deliciosamente nos conta um pouco dessa vila de 446 anos e por isso mesmo grande co-participante deste 500 anos de Brasil é Belmonte. Este magnífico contador de histórias e ilustrador chamava-se Benedito Carneiro Bastos Barreto e jornalista paulistano interessou-se por contar as estranhas histórias de Piratininga e foi o criador do personagem “Juca Pato” , hoje transformado em prêmio que até o presidente Fernando Henrique já recebeu...
Mas a grande obra desse caricaturista é sem dúvida a raridade bibliográfica “No tempo dos Bandeirantes que foi reeditado pelo governo do estado de São Paulo. Em sua apresentação Belmonte dizia que o livro não era propriamente, um livro de História, infalível e definitivo...Quanto aos historiadores, estou certo de que perdoarão o humorista curioso que, com tanta sem-cerimônia, mas com a melhor das intenções, lhes invadiu os domínios”.
E que bela invasão...como a dos índios Carijós , que obrigaram os moradores a fortificarem a vila que nascia ainda sem nome de ruas e praças que são apenas pateos e terreiros.”No alto da colina, encerrada dentro de um triângulo, está a vila”. Ficamos então sabendo que nela ruas sem nome, atalhos que serpenteiam barrancos, “que se despenham pelos alcantís, que vão ligar-se lá embaixo com os caminhos que levam ao Guaré, aos campos de Piratininga e de Santo Antônio, a Ibirapuera, Pinheiros, Ururaí, ao caminho do sertão e ao caminho do mar.”
Algumas ruas e seus nomes sobreviveram aos séculos – “Rua de Sào Bento para Sào francisco, rua que vai para a direita para Santo Antonio, rua que vai para a Nossa Senhora do Carmo, rua do Carmo, rua que vai para a matriz” . Mas a coisa podia ficar confusa quando era “na rua do meu irmão Fernão Pais, rua onde mora Pedro Furtado, na rua pública desta vila, rua que vai para o Anhamgabaú ( que era um rio , e que hoje vez por outra vira um), rua detrás da casa de Aleixo Jorge ( e dessa nem queremos saber de histórias). São Paulo também era conhecida como São Paulo do Campo e era pobre, pobreza essa só atenuada pelo ciclo do ouro.
“Mas os forasteiros afluem””, continua Belmonte e mesmo 1633, em meio à penúria chegam gentes “do litoral, de Santos e sào Vicente, e não poucos dp Sul, do Guaíra e do Paraguai, embora o façam pelo caminho proibido. E já no fim do século, a sua população sobe a quase 4000 almas”. Entre elas , muitos muambeiros.
Grande número de locais próximos tinham nomes indígenas , tudo parecia ficar muito longe. Os mais ricos além das suas propriedades mantinham uma casa na vila. “Morando tão longe assim , não é por ociosidade que os paulistas pouco aparecem na vila, principalmente quando é forçoso andar por caminhos fragosos.O rude bandeirante que , a todo momento, rompe a mata e vai parar no Paraguai, no Amazonas ou no perú, parece não
Ser amigo do meio têrmo. Ou vai muito longe ou não vai.”
Mas a verdade é que os “caminhos fragosos” dão nos nervos. E com tantos rios e riachos sujeitos a enchentes , os caminhos alagados as pontes arruinados , não há quem possa. Já aquele tempo , na Câmara os apelos às autoridades se repetem. “Apelos ao senhor procurador: ...requeeu que se fixassem quartéis para se fazer a ponte do guerepe...E a ponte que está debaixo desta vila chamada anhamgobaí...E que se concerte a ponte da tabatinguera...E a ponte do ribeiro anangabaú caminho de peratiningoa... “
Além dos apelos , há de se notar que muitos locais séculos depois conservam o problema , e que também os escribas não primavam pela padronização dos nomes .

terça-feira, 20 de novembro de 2007



Retornando a Marc Ferro, o motor de sua série de palestras que culminaram no livro foi um debate televisivo sobre Joana D' Arc. Para enfrentar tal façanha leu todos os bons livros sobre assunto incluindo a obra de dois historiadores ingleses, Edward Lucie Smith e Robert Greenblatt que abordavam uma questão que jamais havia pensado. "Apoiados no depoimento de Jean d'Aulun, um dos companheiros de Joana d'Arc, lembravam que 'ela não tinha os contratempos habituais das jovens mulheres' nem atração pelos rapazes. Fico sabendo,então, por esses autores anglo-saxões, que algumas moças podem vir a ter atordoamentos, 'visões' e não sei mais o quê."
Chegando ao debate Ferro encontrou além do arcebispo de Rouen, conhecidos aduladores de Joana d'Arc, e em sua hora de falar ... "senti de repente minha boca congelar, meus lábios tremerem e respondi:- na Rússia, Joana d'Arc era considerada uma heroína nacional, da estirpe de Alexandre Nevski...- e não pude emitir mais nenhum som. Naquele dia, compreendi o que era um tabu: aquilo sobre o que se silencia, por medo, por pudor, confirma Alain Rey. Diferencia-se, com certeza, da proibição aplicada mais precisamente ao que não está autorizado, e distingue-se da auto-censura ou da censura, constantemente invocadas como explicação de todos os silêncios da História".
È óbvio que a muitos é irrelevante que na verdade Moisés (no saber de Gerald Messadié), um dos gigantes da história da humanidade, na verdade fundador de uma religião e líder de um povo, era na verdade egípcio. Explicamos, para os egípcios os filhos pertenciam às suas mães, era delas a ascendência, e muito embora filho de pai hebreu, o líder dos hebreus era filho de Nezmet-Tefnut, egípcia e irmã do faraó Ramsés II. Derrocada a história de cestinhos de junco, foi só aos 15 anos de idade que teve um contato mais estreito com os hebreus.
Grandes heróis não deixam de ser heróis por opções sexuais ou talvez por uma ou outra excentridade. Alexandre, O Grande é um exemplo. Seu gênio militar se impôs sobre o império persa e foi a base da Civilização Helenica. Na arte da guerra recebeu lições do pai, militar experiente que lhe transmitiu conhecimentos de estratégia e lhe deu os dotes de comando. Ainda jovem teve oportunidade de demonstrar seu valor quando, aos 18 anos, no comando de um esquadrão de cavalaria, venceu o batalhão sagrado de Tebas na Batalha de Queronéia em 338 a.C. Depois do assassinato de seu pai em 336 a.C. subiu ao trono da Macedônia e iniciou a expansão territorial do reino. Para a empreitada contou com poderoso e organizado exército, dividido em infantaria, cuja principal arma era a zarissa (lança de grande comprimento) e cavalaria, que constituía a base do ataque. Tão poderoso homem fazia-se acompanhar de jovens imberbes que o serviriam no que a história podia convencionar de "o descanso do guerreiro".
Outro herói foi Ricardo I ,o Ricardo Coração de Leão. Ricardo foi coroado em 3 de setembro de 1189, fato prejudicado por um tumulto e perseguição à comunidade judaica, na Inglaterra, como parte da histeria causada pelas preparações para a Cruzada. O fato é que Ricardo era possuidor de um caráter intrigante, que provocou muito debate entre os historiadores. Na realidade seu interesse na Inglaterra era a possibilidade de ser uma boa fonte de renda. "Ele nunca falou uma palavra de inglês, embora tenha ali nascido, mas era por natureza ligado à França. Mesmo assim, isso não impediu de ser visto como uma das figuras mais heróicas da Inglaterra." explica W.B.Bartlett em seu livro Historia Ilustrada das Cruzadas (Ediouro).
Segundo Jean Plaidy em sua "Saga dos Plantagenetas" (Editora Record), Ricardo foi criado na França entre cavaleiros e trovadores, era heróico e suas campanhas na Sicília, a conquista de Chipre e as vitória na Terra Santa lhe deram a fama. "Porém Ricardo possuía também uma estranha natureza, revelada no conflituoso relacionamento com o rei Felipe da França, no elo místico com o sultão Saladino e na dedicação do menestrel Blondel, que viajou pela Europa até descobrir seu adorado amo na fortaleza de Dürenstein". O leão enfim, tinha seu lado doce que faria parte dessa era de esplendor e de crueldade, mais que isso, foi o caráter aventureiro de Ricardo que levou ao enfraquecimento da instituição monárquica na Inglaterra, abrindo caminho para a crise que seria desencadeada no reinado seguinte.
A realeza sempre nos deu boas histórias e muitas controvérsias, uma das grande polêmicas do século passado foi a morte do Czar Nicolau II e de toda a sua família. Segundo Marc Ferro o assassinato de Nicolau II e da família imperial pelos bolcheviques,em Ekaterimburg, em julho de 1918,é um acontecimento bem identificado, tão conhecido quanto a execução de Luís XVI. No entanto, muitas informações e igualmente muitos indícios levantam um dúvida quanto à realidade do relato sobre esse assassinato - não fosse a sobrevivência da mais jovem das filhas da família imperial, Anastácia, que disseram ser uma impostora". Bela, talvez nem tanto como Ingrid Bergman, Anastásia na verdade foi verdadeiramente reconhecida por Botkine Filho, mas devemos perguntar, quem gostaria de acreditar nele? Ele que havia sido seu colega de brincadeiras em Petrogrado e depois na Sibéria, tendo retornado dos Estados Unidos, fica sabendo que a família, depois de ter reconhecido Anastásia, renega-a para assegurar a passagem da herança de Romanov ao ramo de Cirilo. O dinheiro também é motor da história. Mas tudo poderia ter um ponto final por aqui não fosse a Igreja Católica Ortodoxa Russa ter decidido canonizar Nicolau II, sua esposa e os cinco filhos do casal. A canonização do último Czar da Russia, Nicolau II, juntamente com a esposa Alexandra e os cinco filhos do casal: Aleksey, Olga, Tatiana, Maria e Anastásia. Foi decidida na reunião do Conselho Eclesiástico na presença do Patriarca Alexis na qual os arcebispos decidiram também canonizar outros 853 mártires do século XX, muitos dos quais eram sacerdotes e monges mortos pelos comunistas.

"Talvez ninguém aceite outra versão dos fatos
Que a fantasia é a mordaça da realidade
Os ídolos de barro para os insensatos
E, aos verdadeiros homens, homens de verdade!"

E AGORA A REPÚBLICA


Longe de querermos ter esgotado o assunto República chegamos até a Proclamação em si. Mas a República também tem os seus tabus. Na tentativa de derroca-los algumas obras se apresentam como fundamentais como a que vem agora a público pela Editora Civilização Brasileira . Em "O Brasil Republicano", série coordenada por Jorge Ferreira e Lucilia de Almeida Neves Delgado é dada continuidade ao projeto História Geral da Civilização Brasileira, último grande trabalho organizado por Sérgio Buarque de Hollanda, entre 1960 e 1972. São abordagens plurais e críticas contando com historiadores das principais universidades e instituições brasileiras - convidados, levando-se em conta os critérios de pluralidade, especialidade e reconhecimento acadêmico. São quatro volumes de "O Brasil Republicano" : O tempo do liberalismo excludente, O tempo do nacional-estatismo, O tempo da experiência democrática e O tempo da ditadura.


No primeiro volume de O Brasil Republicano, O tempo do liberalismo excludente, tem início com o conturbado período que se segue à proclamação da República e finaliza com a Revolução de 1930. É quando surgem os padrões culturais, sobretudo a febre modernizante que acompanharam a proclamação da República. Dizendo-se liberal, o novo regime era ao mesmo tempo, excludente. Foi um período onde eclodiram rebeliões lideradas por elites políticas insatisfeitas, tanto civis como militares. O segundo livro fala sobre o tempo do nacional-estatismo, volta-se exclusivamente para a década de 1930 e o apogeu do Estado Novo. O ano de 1930 terminou com uma revolução e com um governo provisório. A partir daí, vários projetos políticos disputaram o poder no país. Os mais atuantes e influentes na época tentaram se impor recorrendo às armas, mas foram derrotados em 1932, 1935 e 1938. Ao final, os insatisfeitos com Getúlio Vargas foram silenciados: o governo constitucional transformou-se na ditadura do Estado Novo. No entanto, o regime autoritário incentivou a industrialização do país, patrocinou uma política cultural que encontrou receptividade entre artistas e intelectuais e elevou os trabalhadores à condição de personagens centrais do regime. Em O tempo da experiência democrática, temos o resgate da prática da democracia no Brasil que se abre com o movimento queremista até o seu colapso com o golpe civil-militar de 1964. O ano de 1945 começou com um movimento inverso: a ditadura do Estado Novo entrava em crise, mas o prestígio do ditador crescia entre os trabalhadores. Com a consolidação da democracia, diversos personagens passaram a se manifestar politicamente: trabalhadores, camponeses, militares, empresários, estudantes, artistas, intelectuais, entre outros. Vivendo uma experiência democrática, a população brasileira, por meio do voto, demonstrava preferências pelo projeto nacional-estatista defendido por trabalhistas e comunistas, mas não tanto pelo programa dos liberais udenistas. Ao final, a direita radicalizou, negando-se a aceitar qualquer tipo de reforma, defendendo seus privilégios a todo custo. Mas a esquerda igualmente polarizou, querendo as reformas a qualquer preço. Por fim O tempo da ditadura, a era dos generais que vai até a eclosão de movimentos sociais no final do século XX. Os militares, ao lado de seus aliados civis, tomaram o poder em março de 1964 e implantaram uma ditadura que durou muito além do previsto até mesmo por eles. Para isso, o regime recorreu à violência, à censura e à espionagem. Muitos melhoraram de vida com o "milagre" econômico e tantos outros se tornaram ainda mais pobres do que eram. Políticos, religiosos, estudantes, artistas e intelectuais se opuseram ao governo dos generais e pequenos grupos de jovens partiram para a luta armada com desejo implantar o socialismo no país. O tempo da guerra suja é melhor entendido em nossa próximo tabu, porém maior tabu hoje em dia é apontar novos "democratas" que estiveram o tempo todo do lado do poder militar.
Outro tabu, e dos mais dolorosos e temidos, era o General Golberi do Couto e Silva. Escrevemos era porque, a partir de exaustiva pesquisa documental, Elio Gaspari conta como dois generais aos poucos desmontaram a ditadura que haviam ajudado a construir: Ernesto Geisel, o Sacerdote, e Golbery do Couto e Silva, o Feiticeiro, atuaram juntos no comando do regime militar brasileiro e o conduziram à derrocada. O relato que inaugura a trilogia O Sacerdote e o Feiticeiro (Cia das Letras) vai de junho de 1971, quando um bilhete anunciava que o novo presidente seria "o Alemão", à avassaladora vitória da oposição nas eleições parlamentares de 1974.


Sobre o livro Marcos Sá Corrêa escreve - "A mistura de pesquisa exaustiva com inconfidências inimagináveis dá às páginas d'A ditadura derrotada o atestado definitivo de que a história supera, sim, a ficção. Em vez de personagens reais dizendo coisas imaginárias, elas têm personagens reais dizendo coisas inimagináveis. Geisel se deixou gravar por um auxiliar de confiança num governo que censurou o presente e o passado mas deixou ao futuro o legado de suas próprias entranhas abertas à exposição pública."


E outras histórias vão saindo das sombras. A de Chico Mendes é outra delas. O jornalista Zuenir Ventura escreveu "Chico Mendes - Crime e Castigo" (Cia das Letras). Quinto volume da série Jornalismo Investigativo teve segundo o autor a preocupação de não tratar Chico como um mito. Em entrevista por ocasião do lançamento do livro, chegou a declarar que ele foi um mártir da causa ambiental mas "não gosto de achar que temos que mitifica-lo. No livro, revelo que ele foi bígamo.Não se tem de esconder isso para fazer dele um personagem religioso.(...)Tive a preocupação de trata-lo não como mito, mas como um líder como poucos que o Brasil produziu."

MONARCAS


Mais tarde temos as histórias de nossos monarcas. É sabido que Carlota Joaquina não era nenhuma flor de pessoa e a esta, poucas vezes os historiadores deram desconto. Personalidade forte, temperamento difícil, teve muitos inimigos e outros tantos bajuladores era considerada um estorvo na vida de D. João VI. Para Oliveira Lima sua alma "poderia chamar-se masculina, não tanto pelo desejo imoderado de poder e pelo cinismo, quanto pela sua pertinácia em alcançar seus fins e pela dureza..." Frente a tal quadro Francisca L. Nogueira de Azevedo em seu livro "Carlota Joaquina, na corte do Brasil" (Civilização Brasileira) "estilhaçar o bloco monolítico que forma essa imagem pública", imagem essa que segundo o historiador português Luís Torgal "...as análises disponíveis sobre esta personagem da história portuguesa apenas transmitem uma lenda negra e anedótica". Estaria na hora de rever esse capítulo histórico.
Quanto a Dom Pedro I, parecemos ser um pouco mais condescendentes, dando-nos possibilidades de escrevermos livros intitulados, por exemplo, "As maluquices do Imperador", de Paulo Setúbal. Vez por outra surgem alterações como quando do lançamento de "Chalaça" de José Roberto Torero. Duílio Crispim Farina, mesmo respeitoso produziu um outro livro diremos, incômodo. Mesmo respeitoso e ganhador do prêmio José Almeida Camargo (1975) da Associação Paulista de Medicina, o livro tratava de um tema dito íntimo, e discorria o livro sobre o "Tempo de Vida, Doença e Morte na Casa de Bragança (Ramo do Brasil)", enfim sobre os achaques, a epilepsia do primeiro imperador e as convulsões do segundo. Sequer a citação de Joaquim Nabuco na página de rosto ajudava dissimular a intromissão - "a missão da monarquia no Brasil não tem exemplo na história das dinastias. O primeiro Imperador criou a nacionalidade, o segundo constituiu a nação e sua filha, numa curta regência, aproveitando o que ela mesma havia iniciado, realizou a abolição, fundando a igualdade social.
Mas Pedro II foi sua própria vitima na história. Provocava escândalos que geravam artigos, peças, romances e muitas charges. A sua má fama contrapunha-se à sua ousadia em busca das modernidades e da cultura. Sergio Gomes de Paula escreve que os enredos de suas histórias faziam as delícias dos oposicionistas e trouxeram grande mal-estar aos monarquistas. "até aí, nada de novo; mas, para agravar, falaram-se coisas mais do que malévolas sobre a vida privada de D. Pedro II, contaram-se casos que faziam dele um furioso da libido". As garotas de pouca idade faziam pano de fundo e a nitroglicerina para seus opositores. A questão do simulado roubo das jóias da coroa foi explorado por muitos como Raul Pompéia, Artur Azevedo e José do Patrocínio. Raul Pompéia escreveu "As Jóias da Coroa" e, recentemente, charges, desenhos satíricos de Agostini, Belmiro de Almeida e Asmodeu foram reunidos aos textos dos três no livro "Um Monarca da Fuzarca" (Relume-Dumará).
Pelo sim, pelo não D. Pedro II, em 16 de novembro de 1889, quando soube que o marechal Deodoro da Fonseca era o chefe do novo regime exclamou - "estão todos malucos!".

sábado, 17 de novembro de 2007

VAMOS SABER SE CONTARAM NOSSA HISTÓRIA CERTO - “Não corram! Vão pensar que estamos fugindo!”



POR SHARON RATIS

Maria assumiu o trono de Portugal, governando de 1777 a 1792, sucedendo ao seu pai, o rei D. José, e a trinta anos da atuação do Marquês de Pombal, a quem ela demitiu e exilou por conta das reformas que este fez em Portugal, nas quais a Igreja e a nobreza eram seus alvos favoritos.Esse seu ato quebrou o controle estatal de muitas áreas econômicas, permitindo que a Igreja e a alta nobreza retomassem seu poder sobre o Estado. Presos políticos foram perdoados, muitos nobres, reabilitado e muitos aristocratas fugidos da Revolução Francesa ganharam asilo político. Este período ficou conhecido como A Viradeira.

Antes de ser conhecida como Maria, a Louca, ela foi conhecida como Maria, a Piedosa, por causa de sua devoção religiosa e suas obras sociais.

Sua instabilidade mental começou a ser notada em 1792, obcecada que era pelos sofrimentos que seu pai estaria padecendo no Inferno por ter permitido que Pombal perseguisse os jesuítas. Maria tinha visões de seu pai, que ela descrevia como ‘um monte de carvão calcinado’. Para tratá-la, veio de Londres o médico e psiquiatra real que havia tratado Jorge III, enlouquecido em 1788.

Quando ocorreu a Independência dos Estados Unidos, em 1796, Dona Maria era dependente da economia inglesa. A situação de guerra favoreceu os cofres de Portugal, pois este era um dos poucos países envolvidos com o comércio em larga distância que não havia entrado em guerra. Foi nesta época que Dona Maria acabou com várias companhias estabelecidas pelo Marquês de Pombal, preocupada que estava em recuperar as rédeas da economia colonial e com a idéia de desenvolver o mercantilismo no Brasil.

De nada adiantou para Dona Maria os “remédios evacuantes” receitados pelo dr. Willis. A morte de seu marido, Pedro III, e do príncipe herdeiro, José, Duque de Bragança, mais a Revolução Francesa e a morte de Luís XVI, rei da França, na guilhotina, fez seu estado mental se agravar ainda mais. Seu filho, João, o príncipe regente, assumiu o trono em 1799, como D. João VI. E, dependentes que eram da economia inglesa, D. João achou melhor não entrar na briga entre a Inglaterra e a França, recusando-se a cumprir o Bloqueio Naval às Ilhas Britânicas.

Com medo de retaliação, a família real resolveu abandonar o país, fugindo vergonhosamente. Os nobres corriam desesperados pelas ruas de Portugal enquanto o povo português reclamava o abandono e, Dona Maria, agora, “a Louca”, pedia que todos caminhassem mais devagar, pois os franceses podiam pensar que estavam fugindo. Vieram para o Brasil em navios protegidos pela Inglaterra, em 13 de novembro de 1807, antes de sofrerem a invasão da coligação franco-espanhola do Marechal Junot que, logo depois, seria nomeado governador de Portugal.

Na viagem, D. João acabou assinando alguns tratados comerciais que favoreciam a Inglaterra e, logo depois de se instalarem em Salvador, D. João abriu os portos às nações amigas, pondo fim ao Pacto Colonial e dando ao Brasil o direito de comercializar com outros países – amigos da Inglaterra, claro. Isso fez que Portugal perdesse o domínio sobre o comércio brasileiro. Em 1810, assinaram o Tratado de Comércio e Navegação, estabelecendo os impostos que os produtos ingleses pagariam para entrar no Brasil, os mais baixos de todos, mais até que os impostos portugueses.
Em agosto de 1808, teve início a Guerra Peninsular. Nos dois anos seguintes, as forças luso-britânicas lutaram contra Napoleão, que só seria derrotado em 1815. No Brasil, para dar moradia a alta nobreza, D. João os mandava escolher as casas que quisessem, marcava-as com as iniciais P.R. (Príncipe Regente) e dava aos moradores um período mínimo para saírem. Os moradores diziam que P.R., na verdade, eram as iniciais de “Ponha-se na Rua”. Resolvido o problema habitacional, D. João tratou de pôr os nobres para trabalhar. Criou vários ministérios, o Banco do Brasil, a Casa da Moeda, a Imprensa Real, as Escolas de Medicina, a Academia Real de Belas Artes, promovendo, enfim, um desenvolvimento cultural no país.

Em 1815, Napoleão foi derrotado. No ano seguinte, já vivendo internada no Convento das Carmelitas, no Rio de Janeiro, Dona Maria, a Louca, morre. Seu corpo foi levado para Lisboa e jaz numa igreja que ela mesma mandou construir, em agradecimento a uma promessa para ter um filho homem que lhe herdasse o trono. Seu filho, José, morreu de varíola dois anos antes de A Basílica da Estrela ficar pronta.

Está, pois, explicado, porque o Brasil é assim.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

VIRGENS E OUTROS HERÓIS


OU ESTE ?

A colonização do Brasil tinha os seus desenredos, degredados, cristãos novos e prostitutas, vinham em levas para compor o que se convencionou chamar de ocupação do litoral. É interessante acompanhar a saga das "alminhas órfãs" trazidas ao Brasil. Na verdade, levas de jovens prostitutas foram entregues a própria sorte no Brasil. Essa história é magistralmente contada em "Desmundo" (Cia das Letras) de autoria de Ana Miranda. Através da narrativa de Oribela, o leitor ingressa em formas de ação e de pensamento da época, deparando-se com aspectos tais como existência feminina, religiosidade, nova terra, amor e sexualidade através do pensamento da personagem que é pontilhado de crenças, medos e questionamentos diante do mundo/desmundo que a ela se apresenta.

Outros de nossos heróis foram de tal forma cristianizados que seu aspecto, nas mãos de nossos ilustradores e pintores foi se alterando. Em Tiradentes temos o melhor exemplo. A começar que o historiador inglês Kenneth Maxwell, em "A devassa da devassa" (Terra e Paz) diz que "a conspiração dos mineiros era, basicamente, um movimento de oligarquias, no interesse da oligarquia, sendo o nome do povo invocado apenas como justificativa", e que objetivava, não a independência do Brasil, mas a de Minas Gerais." Os estudos apresentam um Tiradentes sem barba e nunca o líder que foi apresentado e segundo o autor Joaquim José da Silva Xavier seria apenas e tão somente um possível "bode expiatório" da conspiração. Botando mais "lenha na fogueira" encontramos um artigo do historiador Marcos Antonio Correa (publicado no Jornal Folha de São Paulo) onde defende que Tiradentes não morreu enforcado em 21 de abril de 1792, como conta a Historia Oficial.

Fundamenta sua suspeita com uma lista de presença da Assembléia Nacional francesa em 1793, onde consta a assinatura de um tal de Joaquim José da Silva Xavier. Um estudo grafotécnico permitiu-lhe concluir que se tratava da assinatura de Tiradentes. Ainda segundo ele um ladrão morreu no lugar de Tiradentes, em troca de ajuda financeira à sua família, oferecida pela maçonaria. E mais, que testemunhas da morte de Tiradentes surpreenderam-se porque o executado aparentava ter menos de 45 anos. Segundo o historiador Tiradentes teria sido salvo pelo poeta Cruz e Souza, maçom, amigo dos inconfidentes e um dos juízes da Devassa. Salvo da forca foi embarcado incógnito para Lisboa em agosto de 1792.

Mas ainda vale a lavra da SENTENÇA DE CONDENAÇÃO de 18 de abril de 1792.- "...Mostra-se que entre os chefes, e cabeças da Conjuração o primeiro que suscitou as idéias de república foi o Réu Joaquim José da Silva Xavier por alcunha o Tiradentes, Alferes que foi da Cavallaria paga da Capitania de Minas, o qual a muito tempo, que tinha concebido o abominável intento de conduzir os povos daquella Capitania a uma rebelião; (...)Portanto condenam ao Réu Joaquim José da Silva Xavier por alcunha o Tiradentes Alferes que foi da tropa paga da Capitania de Minas a que com baraço e pregão seja conduzido pelas ruas publicas ao lugar da forca e nella morra morte natural para sempre, e que depois de morto lhe seja cortada a cabeça e levada a Villa Rica aonde em lugar mais publico della será pregada, em um poste alto até que o tempo a consuma, e o seu corpo será dividido em quatro quartos, e pregados em postes pelo caminho de Minas no sitio da Varginha e das Sebolas aonde o Réu teve as suas infames práticas e os mais nos sitios (sic) de maiores povoações até que o tempo também os consuma; declaram o Réu infame, e seus filhos e netos tendo-os, e os seus bens applicam para o Fisco e Câmara Real, e a casa em que vivia em Villa Rica será arrasada e salgada, para que nunca mais no chão se edifique..."

Em tempo, na mesma sentença lê-se que -"... Mostra-se mais que este abominável Réu ideo a forma da bandeira que ia ter a república que devia constar de três triângulos com allusão as três pessoas da Santíssima Trindade o que confessa a folhas 12 verso do appenso n. 1 ainda que contra este voto prevaleceu o do Réu Alvarenga que se lembrou de outra mais allusiva a liberdade que foi geralmente approvada pelos conjurados;" Na primeira edição de sua revista "Nossa História" da Biblioteca Nacional encontramos na sessão Almanaque a nota "Erro de Tradução" - "...na verdade a tradução do lema libertas quae sera tamem, famoso por figurar na bandeira dos inconfidentes,e hoje na bandeira Minas Gerais, está errada. A expressão foi tirada de um poema de Virgílio, que diz: ' a liberdade, ainda que tarde,apoderou-se, porém, do inerte'. Fora desse contexto, não faz muito sentido. "Liberdade ainda que tardia", em latim, seria apenas libertas quae sera,enquanto que libertas quae sera tamen, numa tradução literal, significa 'a liberdade que tardia, porém'".

UM TAL DE JOÃO FERNANDES VIEIRA



João Fernandes Vieira, personagem controversa por suas posturas políticas, , merece mais um verso de nossa canção - "Quem foi o herói que era fidalgo e nobre?/ foi o varão de uma rameira pobre". Escrevem os livros que "João Fernandes Vieira, herói brasileiro e um dos chefes da Insurreição Pernambucana, que nasceu em Funchal, ilha da Madeira no ano de 1613 e falecido em Recife no ano de 1681, era filho do fidalgo Francisco d'Ornelas Muniz e de uma mulher de condição humilde". Essa mulher não era outra que "Maria Bem Feitinha" sabidamente ex-cortesã na Madeira. Se por um lado era essa a sua origem, por outro era o "herói" e não apenas um comerciante português, que terminaria como líder da luta contra os holandeses (1645) em Pernambuco. Voluntário nos primeiros dias da invasão holandesa participou da defesa do forte de São Jorge, porém com o estabelecimento de um governo holandês na região (1635), entrou em "entendimentos" com os novos governantes e tornou-se um dos homens mais ricos e poderosos da capitania. Mais tarde juntando-se a insatisfação popular contra os invasores, comandou a primeira fase da insurreição pernambucana (1645-1648), revelando-se chefe militar dos mais valorosos, primeiro em Tabocas e depois, reunido a Vidal de Negreiros, na Casa Forte. Destacou-se nas duas batalhas de Guararapes (1648/1649) e terminada a guerra, foi nomeado governador da Paraíba (1655-1657), e capitão-general de Angola (1658-1661). Nomeado responsável pelas fortificações do Nordeste (1672), não mais saiu de Olinda.

CONHECENDO OS HERÓIS DE PERTO



Além dos tabus relacionados é interessante darmos um mergulho nessa nossa história, a do Brasil. Vitimada por falta de verbas para pesquisas, arquivos devastados, e depois pasteurizada em dois períodos recentes (primeiramente, por Getulio Vargas, seu DIP e a reforma curricular e depois com a Ditadura Militar, criadora da cadeira de Educação, Moral e Cívica - mais tarde emblematicamente transformada em estudos da Organização Social e Política Brasileira e que ganhava estofo nas faculdades como Estudo dos Problemas Brasileiros) com métodos de mitificação e nacionalismo verdadeiramente deploráveis. Se por um lado mitificamos posturas heróicas que se transformam em ícones para idólatras acabamos por evitar tocar em tabus da história, e como Maria Luiza Tucci Carneiro escreve "deixar cair no esquecimento ou postergar para o futuro são também práticas conhecidas dos brasileiros anestesiados pelas versões oficiais da história". Felizmente isso está mudando e as prateleiras das livrarias se enchem de livros que nos ajudam a repensar nosso passado.



Nossa história começa confusa com a presença de Vicente Pinzón. A cidade de Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco, e a cidade de Fortaleza, no Ceará, disputam o "privilégio" de ter sido o primeiro lugar onde desembarcou um europeu, e portanto, um lugar de descobrimento. Seriam ali os lugares onde o Brasil teria sido descoberto. Mais de dois meses antes de Pedro Álvares Cabral, o navegador espanhol Vicente Pinzón teria aportado suas caravelas em uma dessas cidades. E para complicar ainda um pouco mais no livro A construção do Brasil (1998, Edições Cosmos), o historiador português Jorge Couto relata que o navegador português Duarte Pacheco aqui esteve entre novembro e dezembro de 1498, portanto, mais de dois anos antes de Cabral, mais de um ano antes de Vicente Pinzón, fortalecendo assim a idéia, de que a viagem de Cabral foi intencional e a descoberta não um acaso, e sim uma premeditação. Outra confusão que surgiu na época das comemorações dos 500 anos foi a da primeira cidade brasileira. Neste suplemento publicamos a história da cidade de São Vicente que "da capitania hereditária de São Vicente, hoje, no estado de São Paulo, é uma das cidades que reivindicam para si o título de primeira cidade do Brasil, contrariando os humores de Porto Seguro, Bahia, por exemplo. Picuinhas históricas à parte, esta cidade que tem como dístico o de Céllula Mater da Nacionalidade e, segundo o historiador Francisco Martins dos Santos, já tinha seu nome assinalado em mapas como ilha, porto e povoado desde 1502, onde Eugênio de Castro ao referir-se à expedição de Martim Afonso dizia que "o litoral atlântico que se desenvolve no quadrante sudoeste, entre as ilhas de Santo Amaro e do Bom Abrigo - ou o "Portus de São Vicenzo" e o "Rio de Cananor" é o mais remoto cenário geográfico da civilização européia na terra paulista " e constando ainda nas cartas de 1503, 1506 e 1508 ."

Mas é lá que nos deparamos com as dificuldades dos historiadores, pois a "maioria dos documentos que existem sobre o passado da vila de São Vicente e depois cidade de São Vicente datam de um período após 1796. Após a fundação da vila, criou-se um arquivo, que durou pouco, pois em 1536 um pirata chamado Mosquera atacou e saqueou a vila e assim levou o Livro do Tombo, onde todos os acontecimentos do povoado eram registrados. Em 1542, pasmem, um maremoto, destruiu por completo os cartórios paroquial e civil. O marco e o pelourinho, foram tragados pelas águas. Existem registro dos custos de suas recuperações e construções. Recomeçou-se a organizar o arquivo resgatando o que havia escapado ou ficado na memória depois dos dois desastres. Mas isso também durou pouco e, se não falha a memória de uns e outros, foi em 1591 (ou seria 1593) , o corsário Cavendish saqueou São Vicente e é claro ...queimou a documentação existente.
A população já saturada de tanta chateação resolveu então fortificar a cidade. Tudo ia bem até 1667, quando o juiz ordinário da vila, Manoel Vieira Colaça, enlouquecido por conta das toleimas da doidivanas sua amada, segundo uns ou com medo de uma CPI segundo os modernos, queimou todos os livros restaurados, incluindo aí todo e qualquer papel antigo em que pode colocar as mãos. Só escaparam os que estavam no prédio da Câmara. Um secretário da Câmara também deu sua contribuição e sem que saibamos o motivo, tocou fogo em tudo (segundo cronistas o papelório ardeu por três dias).
Mas, o brasileiro é antes de tudo um teimoso e toca a se recuperar o que dava para recuperar e "pimba", surge um trêfego ascendente do talvez real Pirotécnico Zacarias, de Murilo Rubião. Um Secretário da Casa do qual infelizmente não se sabe o nome e que era fogueteiro de profissão, na falta de algo melhor a fazer utilizou documentos para fabricar bombas e foguetes. A história então foi literalmente pelos ares..."

OUTRA VERSÃO DOS FATOS?



Vamos saber se contaram nossa história certo

Vamos rever o que existe do nosso passado

Devemos conhecer nossos heróis de perto

Tentando consertar o que aprendeu-se errado

Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro in Guararapes



Ensaio de E.Cruz e M. Ratis

Nas edições do Suplemento Cultural, procuramos além de resenhar, comentar, aprofundar discussões sobre cultura e arte, desnudarmos esse ou outro fato ou ainda um personagem que ficou esquecido ou teve sua história contada de uma outra forma. Nossa obrigação como jornalistas sempre foi mostrar os dois lados da questão, apurar os fatos, checar as fontes. È interessante aplicar essas regras à história, e por isso mesmo, temos mergulhado em nosso passado (próximo ou distantes) com a avidez de quem procura, digamos, "um furo de reportagem". Se no jornalismo escrevemos a história futura, nos sentimos também à vontade para "escarafunchar" nosso passado. Muitos historiadores mais sisudos torcem o nariz para tais incursões que resultam em ensaios, que não pretendem ser definitivos, mas sim pontos de discussão para novas pesquisas e outras, como dizem, versões dos fatos. Como na canção de Caymmi e Pinheiro, "o rei, o herói, o santo, o assassino e o mártir/foram também como nós em decadência ou glória..." e por isso mesmo não são intocáveis e não podem se transformar em tabu.
Nos deparamos com o livro "Os Tabus da História", escrito por Marc Ferro. O autor é considerado um dos grandes historiadores da atualidade, nascido em 1924, é diretor de estudos na École des Hautes Études em Sciences Sociales (EHESS), especialista em História da Rússia e pioneiro nas relações do cinema com a História. Também é co-diretor da revista "Les Annales" e foi animador do programa "História Paralela" durante 12 anos. Publicou mais de vinte obras traduzidas em dezenas de idiomas, entre elas "A História Vigiada", "Cinema e História", "História da Colonização - das Conquistas à Independência", "Nicolau II: o Último Czar", "O Filme: uma Contra-análise da Sociedade?" e "O Ocidente diante da Revolução Russa". A mais recente foi "Histoire de France".
No livro Marc Ferro convida o leitor a revirar esses tabus. Provocativamente nos incita a desvendar o que existe por trás dos fatos. Por isso mesmo é um livro diferente de outros historiadores. Editado a partir de transcrições de gravações de conferências, flui sem academicismo. O livro que chegou ao Brasil em momento tão oportuno nos faz relembrar que, assim como em todas as partes do mundo, no nosso país ainda é tabu falar de tabus. "Isto porque tal postura perturba a ordem das coisas, causando mal-estar".
Segundo Ferro, "distingue-se da auto-censura ou da censura, constantemente invocadas como explicação de todos os silêncios da História". Explica ainda que as instituições que mais escondem os segredos de seu poder, que são a Igreja, a República e o Partido."Elas também escondem algumas das marcas de suas origens, tornando-se as principais fontes de segredos e tabus.
No prefácio da edição brasileira Maria Luiza Tucci Carneiro (Universidade de São Paulo) explica que "'Tabu' tem a ver com algo perigoso de ser dito, interdito; algo que estorva, vedando o acesso a certos bens, espaços e informações. Enfim, a sustentação dos tabus expressa algo que foi 'mal-apurado'. Tanto assim que em algumas regiões brasileiras, a expressão 'tabu' é empregada para qualificar o açúcar que, por se haver queimado ao apurar ou não ser bem limpo, não coalha bem na forma, nem entesta para se lhe pôr barro e purgá-lo." E vamos nós derrocando os tabus de lá e cá , como nos versos na mesma canção "Os ídolos de barro para os insensatos/ e, aos verdadeiros homens, homens de verdade".
É ainda interessante observar o que escreve Helenice Rodrigues da Silva (Universidade Federal do Paraná) em seu ensaio "Rememoração"/comemoração: as utilizações sociais da memória. Explica que 'objeto de manipulações freqüentes (de ordem política e ideológica), a memória (individual e coletiva) passa, assim, a integrar o "território do historiador'. Inspirando-se em análises psicanalíticas (sobre o "recalque", o "luto") e filosóficas (sobre o tempo, o silêncio, etc.), o historiador do presente desempenha, nesse trabalho de resgate da memória, uma função de mediador, à imagem de um analista. Procurando adequar os relatos de memórias individuais à veracidade histórica, ele elabora uma reflexão sobre a própria temporalidade. Em outras palavras, cabe-lhe a tarefa da apreensão da relação do presente da memória (de um acontecimento) e do passado histórico (desse acontecimento), em função da concepção de um futuro desse passado. "O trabalho da história se entende como uma projeção, do nível da economia das pulsões ao nível do trabalho intelectual dessa dupla tarefa que consiste na lembrança e no esquecimento", afirma Paul Ricoeur."

VAMOS SABER SE CONTARAM NOSSA HISTÓRIA CERTO



Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz!

Neste 15 de Novembro o Suplemento Cultural publica um preview de sua segunda edição e alguns ensaios adicionais que têm como tema uma reflexão sobre a forma com que contaram a nossa história. Nesta epígrafe uma lembrança do Hino adotado pela esquerda brasileira durante os anos de chumbo. Talvez fosse o momento de refletir um pouco em nome do que lutamos tanto e o pouco que conseguimos. Sem "ismos" mas com uma certa irreverência, boa leitura!
Eduardo Cruz

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

O QUE VEM POR AÍ - POETAS CHINESES CONTEMPORANEOS


UM BARCO REMENDA O MAR - DEZ POETAS CHINESES CONTEMPORANEOS
POESIA
PARA QUEM PENSA QUE POESIA CHINESA É ALGO COMO VASO DA DINASTIA MING (MESMO SENDO BELO, RARO E CARO), TEMOS AQUI A PROVA DO LÊDO ENGANO. SURPREENDA-SE COM ESSE LANÇAMENTO DA MARTINS.
"Um barco remenda o mar reúne versos de originalidade própria e também de originalidade única para olhos brasileiros, pois esta é a primeira vez que são traduzidos para nosso idioma. Mesmo que hoje dialoguem com o Ocidente por meio de 100 milhões de computadores e 350 milhões de telefones celulares, os poetas selecionados para esta mostra preservam em suas feições contemporâneas a cultura milenar chinesa. No entanto, combinam uma nova linguagem poética com a reflexão e a denúncia social numa China pós-revolucionária e de crescimento acelerado. Esta edição bilíngüe apresenta ao leitor brasileiro nomes importantes da poesia chinesa, como Bei Dao, candidato mais do que natural ao Nobel, que teve seus versos carregados em cartazes no protesto da praça da Paz Celestial em 1989: “Para não me ajoelhar na Terra/ contrastando assim com a elevação do carrasco/ que impede os ventos de liberdade”. Sobre os organizadores: Yao Feng. Pseudônimo de Yao Jingming, nascido em Pequim, 1958. Professor auxiliar do Departamento de Português da Universidade de Macau. Além de ter traduzido para o chinês dezenas de poetas portugueses, já publicou cinco obras de poesia, em chinês e em português: Nas asas do vento cego (1990), Confluência (1997), Viagem por momentos (1999), A noite deita-se comigo (2001) e Canção para longe (2006). Régis Bonvicino. Paulistano, nascido em 1955, formou-se em Direito pela Universidade de São Paulo. Foi articulista do jornal Folha de S. Paulo e de outros veículos até ingressar na magistratura em 1990. Seus três primeiros livros, Bicho papel (1975), Régis Hotel (1978) e Sósia da cópia (1983) foram por ele mesmo editados. Hoje, estão reunidos no volume Primeiro tempo (Perspectiva, 1995). Destacam-se entre suas coletâneas: Ossos de borboleta (1996), Céu-eclipse (1999), Remorso do cosmos (de ter vindo ao sol) (2003) e Página órfã (2007), esta publicada pela Martins."
Confira! ( M.R.)

O QUE VEM POR AÍ - “Essa não é uma época para amar.”



ACABAMOS DE RECEBER DA ROCCO

ABRIL EM PARIS
Autor: Michael Wallner
Páginas:192

"Escritor de renome, o austríaco Michael Wallner chega pela primeira vez às livrarias brasileiras com Abril em Paris. Aclamado pela imprensa alemã, por entrelaçar – com maestria, sobriedade, fluidez e elegância – os fios do microcosmos do amor que arrebata com o macrocosmos de um conflito de proporções globais, o romance prende o leitor às suas páginas contando a história de um relacionamento amoroso impossível e improvável, que desafia tudo aquilo que se poderia chamar de bom senso – como uma atualização do clássico Romeu e Julieta em plena Segunda Guerra Mundial, um tempo de inimizades e de lados claramente marcados.
Ambientada em 1943, na Paris ocupada pelos nazistas, a narrativa traz como protagonista Roth, um jovem cabo alemão que se alistara no exército por ser uma das poucas alternativas que tinha em tempos de guerra em seu país natal. Apolítico, ele tenta manter-se afastado o máximo possível da guerra, uma missão difícil para alguém que tem como rotina de trabalho passar os dias em salas de torturas, traduzindo para a polícia secreta as confissões dos suspeitos de participarem da Resistência parisiense.
Em suas folgas, vestindo um terno de xadrez miúdo e um chapéu de feltro, e levando um grosso livro com as fábulas de La Fontaine embaixo do braço, Roth arrisca-se, com seu completo domínio do francês, a flanar pelas ruas da “Cidade Luz” como civil – Monsieur Antoine, assistente de livreiro. Suas andanças, porém, não são fruto do mero acaso e contemplação, há um objetivo específico: encontrar Chantal, uma intrigante francesa de tantos encantos quanto mistérios. No fim da tarde, quando ele passeia pelos arrondissements, ela é tão-somente a filha do livreiro que trabalha numa barbearia varrendo o recinto; contudo, à noite, quando Roth está de uniforme e acompanhado de seus superiores, Chantal é mais uma das sedutoras dançarinas da casa noturna Turachevsky.
As evidências são cristalinas, mas, quando o jovem tradutor consegue, afinal, juntar as peças desse quebra-cabeça, já é tarde demais: ele está irremediavelmente apaixonado por ninguém menos que uma militante da Resistência, que lança mão de todo o seu charme para conseguir informações sigilosas da polícia secreta que freqüenta o Turachevsky. Por sua vez, Chantal também demora a perceber e admitir que, na verdade, Roth significava mais do que ela gostaria.
A conflituosa situação do cabo alemão, dividido entre a obediência e o furor de uma paixão, acaba levando-o para a sala de torturas na posição de torturado. As práticas mais cruéis e as piores atrocidades lhe são infligidas e narradas pelo autor, sob o fio da navalha, com a frieza de um soco na boca do estômago. Dolorosas cicatrizes de uma experiência que ficariam marcadas para sempre no corpo e no coração de Roth.
Michael Wallner conduz, com grande destreza e estilo, uma história de amor cuja qualidade dramática iguala-se ao suspense, por vezes aflitivo, que não vai deixar o leitor abandonar o livro antes de chegar, enfim, à última página. Com diálogos envolventes e descrições sem exageros, Wallner recria, em Abril em Paris, de maneira excepcional, o clima tenso de uma guerra cujas conseqüências influenciaram todo o mundo – reservando um desfecho forte e surpreendente."

O QUE VEM POR AÍ - A HISTÓRIA DE OLGA



ACABAMOS DE RECEBER DA ROCCO

Livro: A HISTÓRIA DE OLGA

Autor: Stephanie Williams

Páginas: 360

"Em A história de Olga – Três continentes, duas guerras mundiais e uma revolução: a saga de uma mulher pela história do século XX, a jornalista Stephanie Williams remonta a história da avó materna que viveu alguns dos fatos históricos mais marcantes do século XX. Baseada em uma pesquisa que se estendeu por mais de uma década, a autora reproduz, episódio por episódio, o curso da vida de Olga Edney.
Nascida Olga Yunter, no ano 1900, em um remoto povoado ao sul da Sibéria, Olgusha, como era chamada pelo pai, teve uma infância feliz. Ela passava seus dias no encalço dos quatro irmãos mais velhos, acompanhava as grandes festas da família, era envolvida nas crendices da ama Filipovna e via o pai ir e vir em excursões pelos confins da Rússia. Enquanto isso, seguia estudando, planejando inscrever-se na Universidade de São Petersburgo, como fez a irmã Lydia.
Os sonhos de Olga começaram a ser ameaçados na adolescência, por volta de 1917, com a Revolução de Outubro. Ainda estudante, ela ajudou os irmãos a defender a região onde moravam e, sem perceber, virou também uma contraventora diante do partido bolchevique de Lenin. Com a cabeça a prêmio, ela foi orientada pelo pai a mudar-se para Vladivostok, onde poderia ingressar na universidade e estaria mais protegida. Fugiu com apenas algumas poucas roupas e pedras preciosas.
O tempo de fartura havia ficado definitivamente para trás e a situação piorou ainda mais quando Vladivostok virou o próximo destino dos vermelhos, como eram chamados os comunistas. Quando isso aconteceu, Olga, junto com a ama Filipovna, já tinha fugido novamente para o norte da China. Nunca mais veria sua família. Depois de um longo período de dificuldades em Tientsin, Olga conheceu Fred Edney. Britânico, bonito e bem-humorado, ele era funcionário de uma empresa de tabaco. Casaram-se em 1923.
Nesse mesmo período, enquanto seguiam os confrontos na Rússia e Olga não tinha notícias da família, na Alemanha, Hitler ganhava cada vez mais força. Apesar do prenúncio de uma nova guerra mundial e da desavença entre chineses e japoneses, por alguns anos, Olga teve tranqüilidade. Fred estava bem colocado, ganhava bem e eles haviam tido a primeira filha, Irina. Olga organizava festas, tinha conforto e fazia o trabalho comunitário que tanto gostava.
A vida ordenada em Tientsin, porém, estava prestes a passar por mais uma transformação. E Olga, por novas provações. Com base em documentos, relatos de parentes e conhecidos, a autora reconstitui também os eventos que balançaram a vida de Olga durante a Segunda Guerra Mundial e anos seguintes. Ao longo da pesquisa, Stephanie conhece descendentes dos amigos da avó e até mesmo primos de segundo e terceiro graus.
A curiosidade sobre a vida da avó russa foi despertada por frases soltas, histórias que não faziam muito sentido. A avó, a quem visitava de tempos em tempos na Inglaterra, não revelava tudo facilmente, mas deixava escapar algumas pistas e mostrava fotos intrigantes. Stephanie gastou 10 anos reunindo cartas, diários, fotografias e documentos oficiais para escrever a impressionante história da avó, que permeou acontecimentos marcantes do século XX. "

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Preparando-se para as férias


Em lançamento da Bertrand Brasil, chega às livrarias o novo livro de Eileen Goudge -
HONRA ACIMA DE TUDO

Gênero : Ficção Estrangeira - Romance Páginas : 546

Honra Acima de Tudo, apresenta duas mulheres extraordinárias, ligadas pelo passado, cada uma vivendo sua própria encruzilhada: a luta entre o peso da consciência e um segundo amor que ronda suas vidas. Grace é uma escritora que faz parte de uma tradicional família do sul dos EUA, filha de um poderoso senador pelo Estado de Nova York. Nola, por outro lado, tem origem humilde: nasceu em uma família afro-descendente e se criou em bairros pobres de Washington, determinada a alcançar sucesso em sua carreira de arquitetura. Mas um terrível segredo une essa relação e domina suas vidas. Elas descobrem que a confiança é uma aposta perigosa, que o amor é um risco desesperado e que a teia do destino é implacável e inevitável.

domingo, 11 de novembro de 2007

O QUE VEM POR AÍ - SOBRE A BELEZA



SOBRE A BELEZA
Zadie Smith

Howard Belsey é inglês, branco, professor de história da arte, e vive há anos em Wellington, cidade universitária da costa leste dos Estados Unidos. É um liberal radical, especialista em defender as cotas universitárias e desmascarar os mitos de beleza e gênio artístico que nos enganam e oprimem. É casado com Kiki, uma enfermeira negra americana, e tem três filhos: Jerome, Zora e Levi.A vida dos Belseys se complica quando Jerome vai para a Inglaterra fazer um estágio com Monty Kipps, negro, professor ultraconservador e maior inimigo de Howard. Jerome se apaixona pela filha de Monty, Victoria. O caso é dissolvido, mas pouco tempo depois toda a família Kipps se muda para Wellington. Quando as vidas dessas duas famílias se entrelaçam, uma série de embates acadêmicos, relações extraconjugais e choques entre identidades culturais forçam os Belseys e os Kipps a reverem suas convicções teóricas e o lugar da beleza e do amor em sua vida.Com um olhar que penetra fundo nas sutilezas da vida familiar e com um talento narrativo extraordinário, Zadie Smith leva cada um de seus personagens a confrontar suas escolhas, crenças e identidades, mostrando a facilidade com que as certezas podem se tornar ilusões.

"Maravilhosamente divertido. Uma romancista extraordinária que compreende a fundo tanto as coisas do intelecto quanto as do amor." - Observer
"Magnífico. Admiravelmente cativante e meticuloso. Uma daquelas raridades: um romance tão tocante quanto engraçado." - New York Times
"De um encanto e espirituosidade excepcionais. Faz com que a vida contemporânea pareça estranha e poética." - Sunday Telegraph
"Uma reformulação deliciosamente divertida do Howard's End, de E. M. Forster, transposta para um campus da Nova Inglaterra e preenchida com humor, generosidade e brilho contemporâneo." - Daily Telegraph
Lançamento da Cia das Letras

A história de uma mulher que desafiou o islã



ACABA DE SER LANÇADO PELA CIA DAS LETRAS E GARANTO QUE É QUASE IMPOSSÍVEL PARAR DE LER ESTA HISTÓRIA REAL. Myrtha Ratis


INFIEL- A história de uma mulher que desafiou o islãAyaan

de Hirsi Ali
Tradução Luiz Antônio de Araújo
Capa Raul Loureiro
Páginas - 512


"Em novembro de 2004, o cineasta Theo van Gogh foi morto a tiros em Amsterdã por um marroquino, que em seguida o degolou e lhe cravou no peito uma carta em que anunciava sua próxima vítima: Ayaan Hirsi Ali, que fizera ao lado de Theo o filme Submissão, sobre a situação da mulher muçulmana. E assim essa jovem exilada somali, eleita deputada do parlamento holandês e conhecida na Holanda por sua luta pelos direitos da mulher muçulmana e por suas críticas ao fundamentalismo islâmico, tornou-se famosa mundialmente. No ano seguinte, a revista Time a incluiu entre as cem pessoas mais influentes do mundo. Como foi possível para uma mulher nascida em um dos países mais miseráveis e dilacerados da África chegar a essa notoriedade no Ocidente? Em Infiel, sua autobiografia precoce, Ayaan, aos 37 anos, narra a impressionante trajetória de sua vida, desde a infância tradicional muçulmana na Somália, até o despertar intelectual na Holanda e a existência cercada de guarda-costas no Ocidente. É uma vida de horrores, marcada pela circuncisão feminina aos cinco anos de idade, surras freqüentes e brutais da mãe, e um espancamento por um pregador do Alcorão que lhe causou uma fratura do crânio. É também uma vida de exílios, pois seu pai, quase sempre ausente, era um importante opositor da ditadura de Siad Barré: a família fugiu para a Arábia Saudita, depois Etiópia, e fixou-se finalmente no Quênia. Obrigada a freqüentar escolas em muitas línguas diferentes e a conviver com costumes que iam do rigor muçulmano da Arábia (onde as mulheres não saíam à rua sem a companhia de um homem) à mistura cultural do Quênia, a adolescente Ayaan chegou a aderir ao fundamentalismo islâmico como forma de manter sua identidade. Mas a guerra fratricida entre os clãs da Somália e a perspectiva de ser obrigada a casar com um desconhecido escolhido por seu pai, conforme uma tradição que ela questionava, mudaram sua vida e ela acabou fugindo e se exilando na Holanda. Ayaan descobre então os valores ocidentais iluministas da liberdade, igualdade e democracia liberal, e passa a adotar uma visão cada vez mais crítica do islamismo ortodoxo, concentrando-se especialmente na situação de opressão e violência contra a mulher na sociedade muçulmana.


"Infiel mostra que uma mulher decidida pode mudar muito mais do que sua própria história." - Christopher Hitchens, Sunday Times
"Este livro é mais do que uma autobiografia comum: descreve uma jornada intelectual incomparável, que parte dos costumes tribais de uma infância na Somália, passa pelo fundamentalismo severo da Arábia Saudita e desemboca no Ocidente contemporâneo. Ao longo do caminho, Hirsi Ali exibe o seu maior dom: o talento de relembrar, descrever e analisar com honestidade o estado preciso de seus sentimentos em cada estágio da jornada." - Anna Applebaum, Washington Post

CIDADE DE DEUS - EDIÇÃO COMEMORATIVA - 10 ANOS (1997-2007)



O morro, a favela, a criminalidade presente, volta a ser fenômeno pop, acima do caráter de renflexão que possa ter qualquer produtor. Se é assim com Tropa de Elite, assim foi com Rio 40 Graus, e também com Cidade de Deus. Nesta comemoração de dez anos de lançamento do livro, é mais que oportuno ler ou reler esta edição revista e ampliada que a Cia das Letras está lançando.
"Romance de estréia de Paulo Lins, Cidade de Deus foi publicado em 1997. Saudado pela crítica como uma das maiores obras da literatura brasileira contemporânea, o livro acompanha as transformações sociais por que passou o bairro carioca de Cidade de Deus - modelo do que aconteceu em todo o país. Quando, nos anos 90, o tráfico de drogas substitui a pequena criminalidade da década de 60, a violência se impõe e a guerra começa. Para redefinir a situação do lugar onde cresceu, Lins usa o termo "neofavela", em oposição à favela tradicional, aquela das rodas de samba e da malandragem romântica.Cidade de Deus é baseado em fatos reais. Grande parte do material utilizado para escrevê-lo foi coletado durante os oito anos (entre 1986 e 1993) em que o autor trabalhou como assessor de pesquisas antropológicas desenvolvidas para os projetos "Crime e criminalidade no Rio de Janeiro" e "Justiça e classes populares", sob a coordenação de Alba Zaluar. Para comemorar os dez anos de publicação do livro, a Companhia das Letras preparou esta edição com o texto original de Cidade de Deus e incluiu uma fortuna crítica com ensaios de Roberto Schwarz, Vilma Arêas e Eduardo de Assis Duarte.Cidade de Deus teve os direitos de publicação vendidos para quinze países. Em 2002 foi adaptado para o cinema por Fernando Meirelles e imediatamente tornou-se um marco na cinematografia brasileira e internacional (o filme foi incluído na seleção oficial do Festival de Cannes)."
"O interesse explosivo do assunto, o tamanho da empresa, a sua dificuldade, o ponto de vista interno e diferente, tudo contribuiu para a aventura artística fora do comum." - Roberto Schwarz
"Vinte anos de vida numa favela narrados por dentro. Um verdadeiro fenômeno." - El País, Espanha

terça-feira, 6 de novembro de 2007

PERTO DO CORAÇÃO DE CLARICE


Em julho de 1946, vivendo em Berna, na Suíça, Clarice Lispector apresenta o Existencialismo a sua irmã Elisa: “Vou lhe mandar um livrinho sobre essa filosofia, do mestre dela mesmo, Jean-Paul Sartre.” As primeiras impressões de Clarice sobre as idéias que tanto influenciariam gerações de escritores e intelectuais são uma das surpresas que compõem o livro Minhas queridas, que reúne 120 cartas inéditas da escritora para suas irmãs entre 1940 e 1957. O título chega às livrarias pela Rocco, em novembro.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

O SUP. CULTURAL AGORA TEM IPOD VIRTUAL

Agora você pode ouvir boa musica enquanto navega pelo seu Suplemento Cultural. Nesta semana, em homenagem ao aniversário da Myrtha Ratis a trilha é Beatles

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Goddard imperdível